Crítica: Cavaleiros do Zodíaco - O Começo

Transformar Cavaleiros do Zodíaco em um filme com atores não era uma tarefa fácil. No geral, a linguagem de animes é muito dificil de ser transposta para outras mídias, muito embora já tenham havido alguns êxitos em hollywood neste sentido (No Limite do Amanhã e Alita - Anjo de Combate são bons exemplos, assim como Círculo de Fogo, que embora não seja oficialmente baseado em um anime é descaradamente uma cópia de Neon Genesis Evangelion). No entanto, transpor para um filme de duas horas uma história complexa que se estende por mais de 100 episódios de 20 minutos na obra original levaria a uma necessidade básica e, muitas vezes, odiada pelos fãs: ter a coragem de mudar o rumo e definir seguir um caminho próprio.


O filme em computação gráfica Lenda do Santuário mostrou que querer fidelidade total à trama do anime poderia ser um erro; os 90 minutos de filme adaptaram um arco que se estende por mais de 60 episódios, e tudo ficou apressado e confuso. Alguns personagens - mesmo os protagonistas - mal foram desenvolvidos. Faltou alma. E esta primeira adaptação em live action mostra que aprendeu com o erro e traz uma história fechada, centrada no protagonista Seiya, e com diversas arestas deixadas de propósito para o futuro (se houver).

Saint Seiya the beginning foi cercado por desconfianças, a começar pelo baixo orçamento - o que se nota em algumas sequencias que poderiam ser mais caprichadas e claramente careceram de recursos -  e pela paralização na produção por conta da Covid 19. Mas o que se vê na tela é realmente uma tentativa honesta de honrar o legado da série, modificando a história para caber de forma concisa - embora com algumas falhas de roteiro - em um longa metragem e abrindo mão de apresentar personagens demais (o que poderia levar a desenvolvimentos pobres e que só funcionariam como fan service).

Efetivamente o filme é uma história de origem para Seiya, mantendo alguns aspectos na história do personagem que vimos na série original, mas tomando diversas liberdades criativas para esta nova versão. Sem se apressar demais, o filme mostra o trauma do rapaz pela separação da irmã, a descoberta de que seria predestinado a ser um Cavaleiro, seu treinamento com a Amazona de Prata Marin e um confronto contra um inimigo que quer tirar a vida de uma moça, que ele descobre ser a reencarnação de Athena. Como no anime, Seiya está destinado a defendê-la como o Cavaleiro de Pégaso, e também terá que enfrentar outro guerreiro poderoso - Ikki de Fênix - que apesar de estar do lado da "vilã" do filme (uma caricata Famke Janssen), claramente está trabalhando para alguém muito maior (o Santuário, talvez).

Mackenyu Arata e Diego Tinoco interpretam Seiya e Ikki no automático - mas o filme não pede grandes talentos dramaticos para os atores. Quando entram em foco as lutas, a história muda de figura e eles entregam boas coreografias e cenas de ação interessantes, principalmente quando surgem as armaduras de Pegaso e Fênix. As armaduras lembram vagamente o design do anime, mas sua forma "contida" é uma mistura do que vimos em Saint Seiya Omega (em que as armaduras estão em pingentes que os cavaleiros carregam no pescoço) e na série clássica (o aparecimento das Pandora's Box é de virar a cabeça dos fãs mais avidos). Ter armaduras mais medievais - que realmente cobrem e protegem o corpo - pode até ser uma questão que faz mais sentido pensando no mundo real, mas fica claro que armaduras mais fiéis teriam sido uma aposta mais segura para os produtores, afinal, as armaduras incríveis são um dos maiores deleites do anime.

Mesmo com personagens com nomes que apenas remetem ao clássico como uma forma de "homenagem" (o Cassius de Nick Sthal é o maior exemplo) e a trama fraca por trás da vilã Guraad, Saint Seiya the beginning acaba tendo mais acertos que falhas, sendo uma produção bastante honesta para o nível de recursos que teve para ser desenvolvida. Na expectativa para acompanhar como será o boca a boca e a bilheteria - principalmente na America Latina, Europa e Ásia - pois agora queremos a continuação para vermos Shiryu, Hyoga e Shun em live action.

Cotação: **

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