Crítica: Coringa

Apesar dos altos e baixos da DC nos cinemas, a editora e grande rival da Marvel Comics carrega na bagagem alguns dos melhores momentos das adaptações de quadrinhos na história; o Superman de Richard Donner, Watchmen de Zack Snyder e a trilogia de Christopher Nolan - obviamente destacada por The Dark Knight - são ótimos exemplos. Todd Phillips e Joaquin Phoenix quiseram aumentar um pouco esta lista.

Correndo totalmente por fora da atual tendencia de filmes conectados e universos compartilhados, Coringa é um novo passo para as adaptações de quadrinhos. É a prova de que o gênero está em pleno ápice e tem muito ainda para explorar.


Apesar de apresentar uma história original, Coringa possui verdadeiramente DNA de quadrinhos, com muitas referências à classica HQ de Alan Moore, Piada Mortal. E se alguém tinha medo que o filme se distanciasse da mitologia estabelecida para o personagem, pode ficar tranquilo: Todd Phillips tem algumas liberdades criativas, mas a essência do personagem está lá.

A jornada de transformação de Arthur Flerk no palhaço do crime é o ponto alto de Coringa, e isto claramente se deve à paixão com que Joaquim Phoenix se entregou ao papel. Em uma atuação forte tanto física quanto emocionalmente, o ator consegue criar sua própria versão do personagem – o que já é um desafio e tanto se considerarmos a imortalizada atuação de Heath Ledger em The Dark Knight – e despertar ao mesmo tempo a compaixão e a repulsa da plateia.

A atuação de Phoenix é o grande destaque do filme, mas os acertos vão além da interpretação do astro. Todd Phillips já havia dito que suas maiores inspirações para o desenvolvimento da trama vieram de grandes clássicos de Martin Scorsese como Taxi Driver e O Rei da comédia, e podemos notar claramente esta influência na caracterização de Gotham. Infestada pela violência e abandono do poder público, Gotham é a perfeita representação de uma Nova York pré-Giuliani (prefeito responsável por uma virada na escalada de violência da cidade na década de 90), e o ambiente de insegurança e caos em que vive o protagonista é definitivo para a virada na sua personalidade e sua entrega definitiva à psicopatia. 

Como qualquer outro filme que trate de temas polêmicos, Coringa não escapou de ser taxado como um filme tóxico e perigoso. A grande questão é que existe uma linha tênue entre expor determinado assunto e concordar com ele. Cada expectador interpreta o que vê na tela de uma forma diferente, e se há aqueles que vinculam a mensagem do filme a grupos que propagam o ódio na internet (os incels), por outro lado existem aqueles que ressaltam a reflexão que o roteiro faz sobre pessoas que sofrem com problemas neurológicos e acabam por viver à margem da sociedade. Não se trata de indicar inocentes ou culpados, mas sim promover uma discussão sadia sobre o tema.

Se havia alguma dúvida sobre as escolhas da Warner para o Universo DC, pelo menos por ora podemos ficar tranquilos. Com o novo filme do Batman a caminho e a promessa de que teremos o embate do morcego com diversos vilões, fica a esperança de que Joaquim Phoenix queira novamente nos surpreender e aceite levar sua versão do Coringa para um embate com seu nêmesis. Como qualquer fã, não custa nada sonhar um pouco.

Cotação: ****

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