Crítica: Alien Covenant
Quando Ridley Scott lançou Prometheus, o diretor surpreendeu ao apresentar o início de uma nova franquia que prometia explorar a mitologia que foi apenas sugerida na saga Alien, aparando arestas como as origens da criatura apelidada pelos fãs como Space Jockey e do próprio Xenomorfo que revolucionou o gênero da ficção científica de horror.
Prometheus trazia uma estética um pouco diferente dos filmes anteriores da franquia, apoiando com mais força sua narrativa na discussão religiosa e no debate entre fé e ciência e deixando em segundo plano o horror slasher. Mas a recepção fria de grande parte do público acabou causando grandes mudanças neste projeto, que podemos confirmar agora nesta sequencia, Alien Covenant.
E essas mudanças não foram poucas. Apesar de contar com Michael Fassbender repetindo seu excelente personagem (o androide David, que aqui ganha um "irmão" também interpretado por Fassbender) e uma pequena ponta de Guy Pierce, isto é o pouco do que temos de continuidade em Alien Covenant com relação ao seu antecessor. Scott praticamente deixa de lado toda a história dos alienígenas colonizadores para focar a trama na transformação da criatura xenomorfa em sua forma clássica. Tanto isto é verdade que a personagem de Noomi Rapace sequer aparece, ficando relegada a menções tolas e que não acrescentam nada à história.
Se você não acha esses detalhes o suficiente decepcionantes, espere para ver o roteiro: personagens rasos, diálogos pobres e o amadorismo nas soluções narrativas fazem lembrar os piores momentos de Alien: A Ressureição. É normal neste tipo de filme que tenhamos personagens que cometem erros primários, mas em Covenant a burrice e ingenuidade da tripulação da nave que dá nome ao título atinge um grau que incomoda até o mais indulgente dos expectadores. Exemplos? Uma das oficiais dá tiros à esmo em uma unidade combustível, enquanto seus colegas saem para explorar um novo planeta sem qualquer preocupação com a contenção de infecções, afinal de contas, somente o ar ser respirável é o suficiente para todos eles retirarem os trajes especiais e caminharem como se estivessem em uma floresta tropical qualquer.
Todos estes erros poderiam até ser esquecidos se o suspense e o horror da franquia original retornassem com o mínimo de dignidade. Mas Scott não consegue reproduzir a atmosfera que nos deixou sem fôlego em Alien: o oitavo passageiro, e o que vemos é uma sequencia de mortes sem impacto e previsíveis, que aproximam o filme mais de um horror trash adolescente do que da franquia que marcou época e criou um ícone como a Ripley de Sigourney Weaver. A protagonista, aliás, nem está aos pés da icônica personagem, mesmo com o esforço da atriz Katherine Waterston. Teria sido muito mais interessante continuar a jornada da excelente Elizabeth Shaw de Noomi Rapace.
Alien Covenant não chega a ser uma decepção completa pois conta com uma direção de arte sensacional e efeitos especiais de encher os olhos, mas provavelmente vai enterrar de vez as pretensões de Scott em criar uma franquia que faça frente a uma de suas mais icônicas criações. Faltou coragem ao diretor para seguir com seus planos originais ao invés de preferir seguir por um caminho mais fácil e mercadológico. Se a prometida terceira parte enxergar a luz do dia, esperemos que o rumo seja corrigido para que tenhamos um verdadeiro épico de horror espacial. Ou o melhor vai ser pegar um DVD ou um blu-ray e fazer um repeteco do clássico.
Cotação: *
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