Crítica: Fragmentado

Um grande sucesso de público e crítica no início da carreira pode ser uma benção ou uma maldição. Que o diga M. Night Shyamalan. O indiano que conquistou o mundo com O sexto sentido até hoje é assombrado pelos fantasmas do longa que o tornou famoso: a cobrança do público pela repetição do plot twist* em qualquer trabalho que leve seu nome e a expectativa dos estúdios pelo retorno financeiro expressivo nas bilheterias.

Embora Corpo Fechado, Sinais e A Vila tenham mantido o padrão narrativo e se saído bem financeiramente, desde então a carreira do diretor tem sido uma sequencia de projetos que mais prometem do que cumprem, e bombas como Fim dos tempos e Depois da terra colocaram sua credibilidade em cheque. 

Mas Fragmentado está aí para provar que o diretor ainda tem muito a oferecer para o cinema hollywoodiano e para o gênero de suspense psicológico. 


Assim como no seu filme anterior (o subestimado A Visita), Fragmentado aposta no minimalismo para surpreender o público. São pouquíssimas locações e meia dúzia de atores em cena, o que explica o orçamento enxuto - cerca de 9 milhões de dólares, um troco se compararmos com qualquer blockbuster de verão. É um filme que se sustenta basicamente na força do seu roteiro e na atuação do protagonista.

Fragmentado conta a história de Kevin (James McAvoy), um homem que sofre de transtorno de identidade dissociativo e possui 23 personalidades distintas, podendo mudar a química de seu corpo para adequá-lo a cada uma delas. Quando sequestra três moças com o objetivo de satisfazer os desejos de uma nova e perigosa personalidade que está emergindo em sua mente, ele entrará em choque com Casey (Anya Taylor-Joy), uma jovem que possui um passado traumático e é a única capaz de entender a natureza de sua psicopatia para tentar livrar-se do cativeiro. 

James McAvoy está simplesmente sensacional. O ator desenvolve as múltiplas personalidades de Kevin com uma fluidez impressionante, o que torna a experiência de assistir Fragmentado perturbadora e, acreditem, divertida na mesma medida. Shyamalan alterna a densa trama psicológica com um humor involuntário que funciona muito em parte pela forma que o ator desempenha o difícil personagem. Sem dúvida o trabalho mais consistente da carreira do escocês.

O diretor mostra novamente que o manejo do suspense se mantém como uma das suas maiores armas para conquistar o público. O posicionamento da câmera e a maneira de explorar a trilha sonora são os fatores que mais aproximam Fragmentado dos seus melhores trabalhos, principalmente Corpo Fechado, que para muitos é o seu filme mais inspirado. E é exatamente nos créditos que Shyamalan lança sua melhor cartada, e abre caminho para a construção da primeira sequencia de sua carreira. Falar mais vai estragar a boa surpresa.

Fragmentado é o retorno de M. Night Shyamalan ao primeiro escalão de Hollywood. Esperemos que desta vez não seja só fogo de palha. 

Cotação: ****

* mudança radical na direção da narrativa

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica: Os Pinguins de Madagascar

Crítica: Homens de Preto 3

Maiores Astros da Pixar