Crítica: A Lei da Noite

Ben Affleck vive um momento interessante em Hollywood. O astro de Batman vs Superman - a origem da justiça e do vindouro Liga da Justiça tem alternado atuação e direção nos últimos anos, mas apesar de aparecer como ator em produções milionárias, tem chamado mais atenção por seus trabalhos como diretor em filmes como Medo da Verdade (em que trabalhou com o irmão Casey Affleck) e os excelentes Atração Perigosa e Argo. 

A boa reputação na Warner permitiu que este seu novo projeto fosse o mais ambicioso de sua filmografia. Adaptado do romance de Dennis Lehane, A Lei da Noite é um filme de gângster que remete às origens do gênero na forma, mas fica muito aquém do que se esperava do diretor na construção da narrativa. 


Estes problemas narrativos de A Lei da Noite se devem principalmente ao fraco desenvolvimento de personagens importantes da trama, e isto não necessariamente ocorre pela falta de tempo (o filme tem bons 130 minutos de duração), mas pela estrutura do roteiro, que tenta incluir mais informações do que seria possível em um filme de pouco mais de 2 horas. Toda a problemática envolvendo a Ku Klux Klan, por exemplo, é resolvida de forma tão rasa que mais parece que o arco foi incluído apenas para ajudar na contextualização histórica da trama.

Na Boston dos anos 1920, em plena era da lei seca, o vigarista Joe Coughlin (Ben Affleck) ganha a vida realizando pequenos roubos, até que um envolvimento amoroso o coloca na mira da máfia irlandesa. Para vingar-se, ele se alia à facção rival, e vai comandar um cartel na Flórida que domina a distribuição de rum nos Estados Unidos. À medida que seu poder cresce dentro da organização, ele começa a perceber que talvez não tenha tudo o que um homem que serve à máfia precisa para manter-se dentro do jogo.

É notável o apuro para a retratação de época do filme, tanto na direção de arte quanto em figurinos e fotografia. O texto também acerta neste ponto, ao fazer um contraponto entre a "América da Quinta Emenda" e o país cuja identidade nasceria da contravenção e da violência (fato também explorado por Martin Scorsese em Gangues de Nova Iorque). 

Mas A Lei da Noite também falha na tentativa de humanizar a figura do fora da lei, da mesma forma que no oscarizado A qualquer preço. Existe o crime, a vida de violência, mas isto foi favorecido por fatores externos, alheios à vontade destes homens, que se sentem vítimas de alguma forma da própria sociedade em que vivem. Nada muito diferente do que estampa os tabloides de esquerda hoje em dia.

A Lei da Noite tem mais acertos que erros, e não vai macular a bela carreira de diretor de Ben Affleck. Vejamos se ele retorna aos bons tempos no próximo trabalho.

Cotação: **

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