Crítica: A Travessia
Desde seu surgimento, o Cinema tem sido um potencial criador de sonhos e das mais diversas emoções. Quando os irmãos Lumière apresentaram ao mundo A chegada do trem à estação, em 1895, parte da platéia levantou-se das cadeiras, apavorada, acreditando estar no caminho da máquina à vapor. O filme tornava possível sensações que até aquele momento povoavam apenas nossa imaginação, nossa memória ou no máximo preenchiam folhas de papel como fotografias.
Em mais de cem anos de evolução, o Cinema aprendeu novas técnicas, evoluiu na linguagem e tornou-se uma das mais lucrativas indústrias da atualidade. Mas ainda existem realizadores que se lembram destes primórdios, quando o mais importante era levar o público para uma viagem fantástica de sensações. Robert Zemeckis é um deles.
O homem que nos fez chorar ao ver uma pena de um pássaro dançando nos céus pela ação do vento e nos colocou em uma viagem alucinada pelo tempo sabe como ninguém como manipular as emoções de seu público, mesmo que usando como interlocutores apenas coelhos malucos de desenho ou uma simples bola de vôlei.
E assim chegamos a este A Travessia, filme em que o diretor leva a plateia para uma viagem nas alturas usando e abusando da moderna técnica do 3D.
Zemeckis reconta a história de Philippe Petit, o equilibrista francês que na década de 70 ficou famoso pela façanha de realizar a travessia entre as duas torres do World Trade Center em uma corda bamba. O feito incrível já havia sido mostrado no excelente documentário Man on Wire (que por aqui foi chamado de O Equilibrista), mas aqui toma contornos impressionantes com a câmera do diretor e a tecnologia atual, que faz com que o público se sinta o próprio Petit - o que em alguns momentos chega a ser sufocante e vertiginoso.
O filme segue o artista desde sua origem humilde na França, e concentra-se em mostrar todos os passos que Petit precisou tomar para sua incrível - e ilegal - realização. Zemeckis não perde tempo desenvolvendo histórias paralelas, e por esse motivo a apresentação dos amigos de Petit é simples, apenas destacando o papel que cada um teve nos preparativos para a travessia. Utilizando o narrador personagem como recurso para contar sua história, Zemeckis torna cada um na platéia um dos cúmplices de Petit na empreitada, o que ainda nos deixa mais tensos quando o filme atinge o seu ápice.
Joseph Gordon-Levitt está muito bem como o protagonista, ostentando um sotaque francês bem trabalhado. Entre os coadjuvantes, quem tem mais chance de brilhar é Ben Kingsley, que representando o homem que ensinou os truques do equilibrismo à Petit equilibra muito bem a figura de um mestre ou de um pai.
Você poderia até pensar que o diretor fosse cair no clichê de tornar A Travessia uma homenagem póstuma vazia para as Torres Gêmeas, mas apesar dos monumentais edifícios se apresentarem como os mais importantes coadjuvantes na história, não há qualquer tentativa de incluir na narrativa a tragédia de 2001; Zemeckis, mais uma vez, demonstra seu incrível poder narrativo e apenas traz um último plano melancólico que resume tudo. E se você estiver recuperado da vertigem, pode ser até que deixe uma lágrima cair.
Cotação: ***
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