Crítica: Planeta dos Macacos - O Confronto
Confesso que Planeta dos Macacos é uma franquia que mexe comigo de muitas maneiras, principalmente no que diz respeito à paixão pelo Cinema. Nunca esquecerei quando, ainda garoto, fui apresentado ao clássico sessentista e passei algumas noites sem dormir refletindo sobre ele: a força do texto, das interpretações, toda aquela atmosfera de caos e desolação. Por isso mesmo, ao me atrever a assistir algumas das sequencias que viriam ao longo dos anos - incluído aí o equivocado filme de Tim Burton - tinha de suportar aquela sensação desconfortável de frustração por nunca ter tido a oportunidade de assistir um trabalho tão bom quanto o original.
Isto acabou em 2011, quando Planeta dos Macacos - A Origem chegou às telas apresentando um novo conceito para a lenda, mas sem as viagens surrealistas que outros diretores nos empurraram goela à baixo. Finalmente havia um roteiro que respeitava o clássico e abria possibilidades incríveis para o desenvolvimento da história.
E não demorou muito para a continuidade da jornada de César chegar com pompa e circunstância - depois de elogios rasgados de crítica e público. Planeta dos Macacos - O Confronto não apenas supera seu antecessor como também acrescenta novos elementos à franquia de forma brilhante, apontando um caminho empolgante para a série no futuro.
Mas a alma desta reinvenção de Planeta dos Macacos chama-se Andy Serkis. O ator inglês, que se especializou em atuar utilizando a moderna técnica de captura de performance, já havia impressionado o mundo com o Gollum de O Senhor dos Anéis - um personagem em CGI tão espetacularmente real que roubava todas as cenas em que aparecia - e parecia impossível que ele pudesse repetir o sucesso de uma obra que teve tanto impacto na cultura pop recente. Mas com César ele atinge o ápice, entregando um personagem complexo, carismático e ao mesmo tempo aterrador, e novamente em um mise-en-scène digno das maiores performances já vistas em Hollywood.
Não há em Planeta dos Macacos - O Confronto a megalomania que tomou conta da maior parte dos blockbusters recentes, mais preocupados com cenas de ação espalhafatosas do que com a história que está sendo contada. Os efeitos especiais, aqui, surgem todo o tempo como coadjuvantes para a construção da trama, em que os macacos gerados por computação gráfica interagem de maneira perfeita com os atores e cenários, ainda contando com o recurso adicional do 3D para intensificar a profundidade. Mas o drama, seja no lado humano, seja no lado símio, continua sendo a arma mais poderosa desta nova versão.
10 anos depois dos eventos de Planeta dos Macacos - A Origem, o vírus símio que atacou a população humana se alastra de forma assustadora, provocando uma hecatombe de proporções apocalípticas, à medida que o senso de sobrevivência deturpado da raça humana leva à guerras que potencializam o genocídio. Ao mesmo tempo, César e sua colônia de macacos evoluem de forma extraordinária, organizando-se em um grupo poderoso. Após anos de isolamento, os caminhos de humanos e macacos cruzam-se novamente quando um grupo de sobreviventes encontra a colônia em sua busca por uma usina elétrica que poderia ser a chance de sobrevivência e a esperança de um contato com o mundo exterior. À princípio relutante em cooperar, César acaba cedendo à presença dos humanos na comunidade, provocando reações adversas em alguns membros de seu grupo e na sua própria família, que acabarão por colocar as duas comunidades em um confronto mortal.
O diretor Matt Reeves novamente mostra-se à vontade neste universo, mesmo este sendo um filme muito diferente do antecessor. Tudo esta em escala maior, principalmente em relação à quantidade de macacos em cena. Se em A Origem havia apenas um grande ápice - a impressionante batalha na Ponte Golden Gate -, em O Confronto temos diversas cenas de grande impacto, quase todas protagonizadas pelas criaturas digitais. Sobra pouco espaço para os atores, e mesmo o gigante Gary Oldman parece menor frente ao Koba de Toby Kebbell, o segundo grande destaque no elenco símio.
Planeta dos Macacos - O Confronto é uma aventura empolgante e de tirar o fôlego. Minha principal expectativa? Que o filme faça o pessoal da Academia pensar se já não é hora de se render, de vez, aos grandes personagens digitais. Afinal de contas, por trás dos pixels, existe um ator de verdade ali, tirando emoções REAIS da platéia. As mesmas emoções que as máscaras de Zira, Cornélius e cia. me fizeram pensar tanto quando ainda era garoto. A verdadeira evolução seria essa.
Cotação: ****
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