Crítica: Jogos Vorazes - Em Chamas

Muita coisa mudou desde que o primeiro Jogos Vorazes chegou aos cinemas, no primeiro trimestre de 2012. Os livros de Suzanne Collins, já campeões de vendas em mais de cinquenta países, ainda não eram um fenômeno pop comparável aos vampiros de Stephanie Meyer ou os Olimpianos de Rick Riordan; Jennifer Lawrence, apesar do sucesso de crítica e da indicação ao Oscar com Inverno da Alma, ainda era coadjuvante de luxo em filmes como X-men Primeira Classe; e o estúdio Lionsgate tinha como sua mais lucrativa franquia a série de terror Jogos Mortais, que já estava com sua fórmula esgotada aos litros. O anúncio da adaptação da série para as telonas, assim como outros projetos que pretendiam roubar o posto da franquia Harry Potter, era cercado de desconfiança. Mas as bilheterias mostraram que o público queria, sim, uma nova Saga literária nos cinemas - ela só precisava mostrar que tinha força para cativá-lo.
 
Jogos Vorazes assumiu o compromisso e atendeu as expectativas com méritos diversos, que iam da escolha do elenco - que alternava rostos já conhecidos como Josh Hutcherson, Elizabeth Banks e Wes Bentley, promessas como Liam Hemsworth e veteranos que garantiam o respeito ao projeto, como Woody Harrelson e Stanley Tucci - ao roteiro bem desenvolvido que respeitava o material original, cheio de referências a obras como Battle Royale e O senhor das Moscas. E o sucesso mundial garantiu a produção das sequencias, sendo Em Chamas a primeira delas a chegar aos cinemas.
 
 
 
Uma vez que o sucesso do filme estava garantido, já que os ávidos fãs dos livros ficaram satisfeitíssimos com o produto final e ainda houve um bom aceite também do público geral, a Lionsgate pôde ousar ainda mais com Em Chamas. Digo ainda mais pois imaginar que um blockbuster de Hollywood direcionado ao público jovem trataria de questões tão polêmicas quanto Jogos Vorazes, alguns anos atrás, era praticamente inviável. Mas o novo filme não perde o espírito do original, tem cenas fortes, suspense na medida e, como qualquer parte central de uma trilogia, um final em aberto que vai fazer todo mundo pular na cadeira de raiva em pensar que precisaremos de mais de um ano para conferir o final da aventura - que ainda será dividido em duas partes, conforme a nova cartilha seguida à risca desde Harry Potter e as Relíquias da Morte.
  
Em Chamas começa exatamente onde deixamos Katniss e Peeta no filme anterior; vencedores da 74a edição dos Jogos Vorazes, depois de uma manobra que desafiou a autoridade dos responsáveis pelo Reality Show e dos Governantes dos 13 distritos, eles retornam para um breve período em casa, onde são recebidos como heróis. Mas à medida que os atos de Katniss provocam insurreições nos outros distritos - que agora consideram a garota como um símbolo de esperança de que seria possível combater o ditatorial regime da Capital - o Presidente Snow resolve alterar as regras da competição, recrutando os tributos entre os vencedores das edições anteriores dos Jogos. De volta à arena, eles terão que lutar novamente por suas vidas contra um Grupo ainda mais mortal de participantes, e desta vez apenas se conseguirem aliados terão alguma chance de escapar com vida - ao menos um deles.
 
Com Francis Lawrence na cadeira de diretor (substituindo Gary Ross), o filme ganhou contornos mais dramáticos e uma escala mais épica, obviamente favorecida pelo orçamento mais robusto. Mas o diretor optou também por suavizar um pouco o visual estilizado dos figurinos dos personagens da Capital, que no primeiro filme davam a impressão que estavam a ponto de entrar na Marques de Sapucaí para o Desfile das Escolas de Samba. Também é nítido o acabamento mais caprichado nos cenários e nos efeitos visuais - o que era de se esperar de um diretor com experiência em filmes de grande orçamento.
 
O roteiro de Em chamas permanece sendo o grande acerto da adaptação da obra de Collins, e aqui ainda houve espaço para melhorar neste fundamento o pouco que havia sido feito de errado no filme anterior, como o desenvolvimento dos personagens coadjuvantes, principalmente dos demais tributos que participam dos jogos. O viés político também é explorado de forma mais eficaz, o que é importante para preparar o público e criar o ambiente para os últimos atos da Saga, em que a insurreição será a palavra de ordem. Mesmo para os iniciados e que só conhecem o filme original, fica muito fácil de acompanhar. É Hollywood mostrando que finalmente aprendeu como se adapta um best-seller.
 
Mas a força motriz de Jogos Vorazes é, sem dúvida, Jennifer Lawrence. Ainda mais linda e segura do que na primeira parte, a atriz mostra que o Oscar em O lado bom da vida não foi fogo de palha e domina a tela do início ao fim, não deixando a peteca cair em momento algum. Katniss é uma personagem complexa, que mistura firmeza e fragilidade em doses parecidas, e Jennifer consegue dosá-las de maneira espetacular. Fica fácil entender o motivo do jovem Peeta ter se apaixonado por ela. Qualquer cara com a cabeça minimamente no lugar sentiria a mesma coisa.
 
Em Chamas vai fazer rios de dinheiro nos cinemas, e possivelmente deve tornar-se a segunda maior bilheteria do ano (atrás apenas do até então inalcançável Homem de Ferro 3). O sucesso é merecido e bem vindo, pois abre portas para que os produtores continuem apostando em séries de fantasia - Percy Jackson teve sua segunda chance este ano, e ainda temos para estrear o aguardado O jogo do exterminador. E ano que vem, A Esperança - parte 1 chegará para aplacar a ansiedade do público, que com certeza ficará ainda mais em alta. Feliz Jogos Vorazes, e que a sorte continue sempre a nosso favor, amantes do bom cinema!
 
Cotação: ****
 

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