Crítica: Somos tão Jovens
Filmes que contam a vida de astros da música popular brasileira não são novidade no Cinema Nacional pós retomada. Desde de cinebiografias, como Cazuza - O Tempo não para, Dois Filhos de Francisco e o recente Gonzaga - De Pai para Filho até os documentários como Simonal - Ninguém sabe o duro que dei, explorar as personalidades da música e suas - quase sempre - vidas cheias de conflitos era um prato cheio para melodramas com pouca substância, que se apegavam mais à força da obra do artista que estava firme em segundo plano, compondo a trilha sonora, do que efetivamente a contar uma boa história.
Não ia demorar muito para um dos mais cultuados mitos da nossa geração ganhar seu próprio filme. Filmes, aliás. Com projetos paralelos sendo tocados ao longo dos anos - graças à burocracia que acomete a produção brazuca e é mais um dos muitos empecilhos ao desenvolvimento do nosso Cinema -, Renato Russo chegará em dose dupla aos cinemas brasileiros em 2013. Com Faroeste Caboclo, ficção que adapta a famosa canção de autoria do artista; e este Somos tão jovens, filme que teria começado como um documentário sobre a banda Legião Urbana e acabou se tornando uma biografia do cantor que se tornou uma lenda.
Apesar de retratar Renato Russo, Somos tão jovens é praticamente um filme censura livre. Politicamente correto, com vocabulário leve e sem cenas escabrosas (o que era minimamente compreensível considerando o que se sabe sobre a vida do cantor), o filme segue a cartilha da Globo Filmes de fazer Cinema para as massas sem ousar muito. O diretor, Antônio Carlos Fontoura, faz um bom trabalho com os atores e na finalização do longa, mas não acrescenta personalidade ao roteiro quadradão de Marcos Bernstein, que apesar de ressaltar as esquisitices do cantor (em sequencias hilárias, diga-se de passagem) romantiza demais questões que não precisariam ser tratadas com este toque, como por exemplo, sua homossexualidade. Estanho notar que o tema hoje seja tão escancaradamente escrachado nas novelas e tratado desta forma no cinema, algo totalmente contraditório. O filme o transforma em um personagem menos complexo e menos atormentado do que o artista da vida real.
O roteiro acompanha a vida de Renato Russo nos anos de faculdade que antecederam ao sucesso com o Legião Urbana, período em que conviveu com outros nomes da música como Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá (também do Legião Urbana), Dinho Ouro Preto, Fê e Flávio Lemos (Capital Inicial) e Philippe Seabra (Plebe Rude). Inspirados nos punks de Londres, eles transformaram Brasília na capital roqueira do Brasil na época. No filme, Renato (Thiago Mendonça) realiza o sonho de tocar numa banda com o Aborto Elétrico, graças ao apoio e os conselhos da amiga e confidente Aninha (Laila Zaid). Quando entra numa crise criativa e começa a perceber que não está seguindo o que realmente anseia em sua carreira musical, Renato Russo se distancia da banda e de Aninha, entrando cada vez mais no isolamento que já era característico de sua personalidade. É neste período que ele começa a escrever suas composições mais belas e desperta o interesse de outros músicos. Surge, então, a chance de formar o Legião Urbana, que se tornaria uma das bandas mais famosas do país.
Thiago Mendonça aprendeu a tocar violão e se apresentou ao vivo no filme para se tornar Renato Russo, e realmente ficou parecido com o artista. Mas sua atuação, apesar de convincente, é cheia de altos e baixos. Em alguns momentos, para se tornar mais semelhante fisicamente ao cantor, ele exagera nos trejeitos, o que torna sua performance artificial. Mas fica claro que a culpa é mais do diretor do que do próprio ator. O elenco jovem, no geral, se sai bem. Em nenhum momento Somos tão jovens lembra um especial de fim de ano adolescente ou uma novelinha de fim de tarde no que diz respeito ao desempenho dos atores. Mas entre todos, não posso deixar de fazer elogios especiais para Laila Zaid, que rouba a cena como a doce Aninha cada vez que aparece; e Sérgio Dalcin, que no pouco tempo de tela que tem como Petrus - um dos componentes do Aborto cujo pai, diplomata, obrigou-o a morar com ele na África do Sul - chama atenção pela maneira vigorosa que interpreta o personagem.
Entre as canções que compõem a trilha sonora, sucessos como Somos tão jovens, Eduardo e Mônica e Ainda é Cedo cumprem o papel de nostalgia e trazem a emoção que por vezes o filme sozinho não conseguirá transpor para você (mas não se preocupe: as cenas finais, quando há a reconciliação de Renato e Aninha são um prato cheio para os mais sentimentais).
Somos tão jovens já é um grande sucesso do Cinema Nacional, mesmo criando uma certa polêmica com os fãs mais xiitas do cantor. Considerando o boca a boca favorável dos primeiros dias em cartaz, pelo visto ainda irá levar uma legião para os cinemas. Prova que lendas de verdade nunca morrem.
Cotação: ***
Comentários
Postar um comentário