Crítica: A morte do demônio
Na década de oitenta, os filmes de horror estavam passando por um momento de ápice criativo. Sem repetições de fórmulas e com tramas realmente assustadoras, o gênero revelou alguns mestres na frente e por trás das câmeras, dentre eles Sam Raimi. O diretor, hoje em dia mais conhecido pela trilogia do herói da Marvel Homem Aranha, é pai de um dos maiores colecionadores de sustos da história do cinema: Evil Dead. O filme de 1981, que ganhou uma continuação conhecida por aqui como Uma noite alucinante, é um dos mais copiados filmes do gênero.
Este pequeno clássico gore ainda estava escapando da onda de remakes que tomou de assalto o gênero em Hollywood, pelo menos até agora. Vendido como uma reinvenção, uma homenagem ao original, o novo A morte do demônio chega aos cinemas abençoado por Sam Raimi e sob direção de um estreante, Fede Alvarez. Talvez alguns anos atrás o filme funcionasse melhor, já que os sustos que eram novidade na época da estréia do original hoje em dia estão para lá de datados.
Fede Alvarez não faz de seu A morte do demônio uma cópia xerox do original, mas referencias diretas ao mesmo não faltam. Desde a premissa, a ambientação e a atmosfera, tudo remete ao que foi feito por Sam Raimi, embora a câmera de Alvarez esteja léguas de distância de ser tão insana quanto a do experiente diretor. No entanto, ele optou por dispensar os recursos gráficos e utilizar no filme apenas efeitos práticos (que estão assustadoramente realistas) e não carrega aquele humor irônico que, principalmente, possuía o personagem Ash, de Bruce Campbel. O novo filme, então, está mais para um Jogos Mortais do que para um dos clássicos do subgênero filme-de-cabana.
A narrativa de A morte do demônio repete nos diálogos clichês de recentes filmes de terror, o que causa certa estranheza, já que nos créditos do roteiro constam nomes como Diablo Cody, vencedora do Oscar por Juno. Fede Alvarez não faz grandes inovações além das mutilações e lascerações que acometem os personagens a todo momento, e algumas situações, de tão inverossímeis, não conseguem assustar, mas tampouco são engraçadas. Alvarez definitivamente não tem tino para o humor, e isto nem de longe é um ponto positivo para seu filme.
Tecnicamente, além do acerto pela escolha dos efeitos práticos, também é destaque a banda sonora de Roque Baños, que acerta em não carregar a ação apenas com temas pesados, como havia se tornado comum nas produções do gênero. Outro ponto positivo é o visual da criatura, que embora remeta a outros filmes como O Chamado e Agua Negra, torna interessantes as sequencias em que há a interação com o ambiente e favorece os truques de montagem que foram preparados pela equipe.
O elenco da produção aposta em nomes pouco conhecidos. Os protagonistas são Shiloh Fernandez (A Garota da Capa Vermelha) e Jane Levy (da série de TV Suburgatory), que interpretam os irmãos David e Mia. Shiloh repete aqui as caras e bocas de suas atuações recentes, enquanto Jane faz da atormentada Mia o mais interessante personagem do longa, seja em sua versão humana, seja na versão demoníaca, que muito lembra a inesquecível criatura do clássico O Exorcista. O desempenho da atriz é uma surpresa agradável. Também é interessante o trabalho de Rupert Degas, que dá voz de forma apavorante ao demônio. Se as imagens na tela tivessem dez por cento do impacto de sua voz, A morte do demônio seria realmente o filme arrepiante que havia sido prometido.
Embora não seja um fracasso, A morte do demônio não é ainda o filme de horror que o público está esperando. Se você é fã do original, fique até o fim dos créditos: a maior surpresa desta nova versão estará te aguardando por lá. E se a promessa que os produtores plantaram for cumprida, vai ter muita gente com expectativa pela continuação mesmo sem ter gostado do longa. Isso sim que é jogada de mestre.
Cotação: **
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