Crítica: Mama
O nome de Guilhermo Del Toro como diretor ou produtor sempre chama a atenção para um filme. Seu estilo visionário, que deu a produções como Hellboy e O labirinto do fauno características ímpares dentro de seus respectivos gêneros, por si só, é um chamariz para uma conferida nos filmes que levam a sua assinatura.
Com uma produção de horror, a curiosidade se tornou ainda maior depois do diretor ter seguido pelo ramo literário com a trilogia da escuridão. O primeiro romance, Noturno, já está prometido para chegar às telas, e impressiona pela forma nada convencional da narrativa que subverte alguns clichês do gênero. Era de se esperar, então, que Mama, que foi alardeado como uma história de horror nunca antes vista, cuja produção é de Del Toro e a direção do argentino Andrés Muschietti, não seguisse por caminhos óbvios e sustos previsíveis. No entanto, o filme faz realmente a diferença no desfecho, que promete deixar muita gente de cabelos em pé.
Não que o restante do filme seja bobo e repetitivo. Mama segue alguns padrões que emplacaram no gênero de horror nos últimos anos - espíritos ressentidos, crianças perturbadas que escondem segredos, protagonistas femininas com forte apelo maternal - mas a forma que o estreante Muschietti desenvolve a história (que é baseada no curta metragem de sua autoria) é dinâmica e prende a atenção, embora, novamente vale a pena frisar, apele para os clichês básicos do cinema de terror no que diz respeito a necessidade de retirar gritinhos da platéia a todo momento.
Embora mantenha um certo suspense quanto ao visual da criatura que é o mote da trama, este detalhe não é importante. Del Toro e Muschietti trabalham durante toda a narrativa em Mama um argumento que caminha para uma solução tola, bem ao estilo que é praticamente padrão nos filmes recentes de fantasmas, e surpreendem o público com uma reviravolta que vai fazer você saltar da cadeira. Tudo foi milimetricamente planejado, e a gente cai direitinho na armadilha da dupla.
Na trama do filme, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), tenta desesperadamente há mais de cinco anos descobrir um rastro do paradeiro das sobrinhas, desaparecidas desde que o irmão gêmeo as levou de casa depois de assassinar o sócio e a esposa. Quando finalmente são encontradas, estão totalmente diferentes: sobreviveram na floresta, em uma cabana abandonada, alimentando-se de frutas silvestres e desenvolvendo comportamento selvagem. Com ajuda psicológica, descobre-se que ambas acreditam que uma entidade a que chamam de Mama teria as mantido vivas e sob proteção, e que ainda as visitava. Uma vez sob a guarda de Lucas, sua namorada, Annabel (Jessica Chastain) começará a desconfiar de que existe algo de verdadeiro na história contada pelas meninas, embora o médico responsável pelo seu tratamento insista que é apenas um trauma emocional.
Jessica Chastain carrega boa parte do filme nas costas. A atriz, que está com um visual totalmente diferente, dá credibilidade ao personagem, da mesma forma que Bélen Rueda o fez em O Orfanato e Nicole Kidman em Os outros. Vale um elogio, também, ao desempenho das meninas Megan Charpentier e Isabelle Nélisse, que estão excelentes como Victoria e Lily. Mas embora conte com o esforço das atrizes, a força da direção e bons efeitos especiais, Mama ainda não consegue ser tão marcante quanto as outras duas obras citadas, talvez por não apresentar tantas novidades quanto as mesmas, embora todas tenham surpresas no terceiro ato.
Considerando a onda de remakes e continuações caça níqueis que assola o cinema de horror, Mama é uma surpresa mais que bem vinda. É um filme americano com a cara e o jeito latino de assustar. Talvez por que a gente tenha muita experiência com sustos seja mais fácil dominar a técnica. Isso acho que nem Freud explicaria.
Cotação: ***
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