Crítica: Anna Karenina
Quando Joe Wright anunciou que estava trabalhando em uma nova adaptação do romance clássico de Liev Tolstói, confesso que fiquei empolgado, pois era no mínimo curioso saber o que o diretor por trás de trabalhos esmerados de reconstituição histórica como Orgulho e preconceito e Desejo e reparação faria com o texto carregado de temáticas sociais da Rússia Czarista que se desenrolava a partir da história de um caso extra-conjugal de uma aristocrata.
Mas o excesso de expectativa gerou um pouco de frustração. Da mesma forma do que muitas das adaptações antecessoras, Anna Karenina de Joe Wright concentra seu foco no triângulo amoroso entre a personagem título, seu amante, Vronsky, e o marido, Karenin, deixando praticamente de lado todo o potencial que a obra do autor de Guerra e Paz possui.
Essa escolha de Wright dá a Anna Karenina o status de um filme de romance com uma espetacular produção de arte. E coloque espetacular nisso. Como já se tornou referência em todos os seus trabalhos de época, John Wright seleciona para sua equipe o que há de melhor na indústria cinematográfica para compor cenários e figurinos deslumbrantes. Se em Desejo e Reparação ele também havia ousado na linguagem com um belíssimo plano sequencia no litoral, aqui ele faz uma interação cinema-palco que faz lembrar as Vaudevilles, casas de espetáculos onde eram exibidas grandes produções teatrais no fim do século dezenove e que viram surgir as primeiras exibições do cinematógrafo dos irmãos Lumière.
Mesmo com a esmerada produção e o elenco caprichado que inclui Keira Knightley, Aaron Johnson (com atuação burocrática) e Jude Law como protagonistas, Anna Karenina não consegue abafar o brilho de outras obras antecessoras baseadas no romance, sendo a principal delas produzida em 1948 e protagonizada pela inesquecível Vivian Leigh. John Wright não entrega nada de novo além da estética, que por vezes soa forçada, parecendo limitar-se a impressionar o público e disfarçar as falhas do roteiro (muitos personagens desfilam pela tela sem dizer a que vieram e algumas linhas narrativas mostram-se completamente desnecessárias).
A escolha por uma narrativa estratificada é acertada, considerando a quantidade expressiva de detalhes que existe no material original para adaptação. O diretor possui experiência suficiente para realizar este manejo das idas e vindas temporais sem causar estranhamento na platéia. Apesar da duração adequada (cerca de 130 minutos), Anna Karenina parece mais arrastado em alguns momentos do que deveria. Talvez a insistência do diretor em concentrar a história no núcleo principal, deixando as demais tramas praticamente de lado, tenha sido vital para transformar a experiência de se assistir ao filme, por vezes, bastante cansativa.
Há de se louvar a capacidade de John Wright de arrancar performances acima da média da estrela Keira Knightley. Se em blockbusters como Piratas do Caribe a bela atriz tem a expressão de um caju sem castanha, em seus dramas de época a situação é bem diferente. Embora não repita a performance arrasadora de Desejo e Reparação, Knightley carrega com maturidade o peso de um personagem importantíssimo na história da sétima arte. O colega em cena, Jude Law, é quem mais chama atenção, e passa por um excelente momento na carreira, alternando bons personagens em filmes comerciais e no cinema alternativo.
Anna Karenina passou despercebido pela temporada de prêmios em 2013, apenas como coadjuvante em categorias técnicas. Justificável, haja visto que o filme poderia, sim, ter sido muito mais do que foi. Faltou para John Wright acreditar um pouco mais na força da história que ele próprio escolheu para adaptar.
Cotação: **
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