Crítica: O Mestre

Depois de Sangue Negro, Paul Thomas Anderson não precisava provar mais nada para ninguém. Com uma das carreiras mais regulares do cinema atual, este Californiano fã de Renoir, Truffault e Scorcese faz de seus filmes um verdadeiro laboratório de experiências cinematográficas. Talvez por isso sua carreira seja marcada por tão poucos - mas marcantes - trabalhos.

Mas se expor as mazelas do surgimento do mercado de óleo e gás nos EUA já era uma ousadia e tanto - o livro em que se baseava o filme, Oil, é uma das mais controversas obras literárias da atualidade na América do Norte -, Paul Thomas Anderson não quis fazer por menos em sua nova empreitada. Em O Mestre, ele faz um retrato minucioso de um líder fictício de uma religião alternativa (inspirado no cientologista L. Ron Hubbard) sob o olhar de um dos seus seguidores desequilibrados, mostrando o poder que uma mente dominadora tem sobre outra fraca ou submissa. Entre outras palavras, Paul Thomas Anderson faz uma crítica a todos os falsos profetas, de todas as religiões existentes.


Ao contrário de seus dois últimos trabalhos (Embriagado de amor e Sangue Negro), Paul Thomas Anderson decidiu optar por uma narrativa não linear para O Mestre. Esta escolha aliada ao tema pouco ortodoxo e às imagens de forte conotação sexual dão ao filme um aspecto pesado, que se agrava se considerarmos a estética do diretor, que utiliza com frequência constantes movimentos de câmera e planos gerais com grande profundidade.

Anderson aborda a temática religiosa de seu roteiro de maneira impressionante. O Mestre não é um filme ateísta, seguindo, sim, uma linha agnóstica. Ele utiliza a cientologia - que é uma das religiões com grande contingente de fiéis no mundo de mais recente fundação - para expor como grupos religiosos podem conseguir criar uma histeria coletiva capaz de corromper pessoas pelo simples poder de oratória de uma única pessoa, aqui representada pelo mestre o título.

Phillip Seymour Hoffman mais uma vez desaparece em um personagem dando vida a Lancaster Dodd, um escritor de pouco talento mas muita retórica que encontra uma verdadeira mina de ouro quando, ao iniciar uma seita afirmando uma descoberta que mudaria a vida espiritual das pessoas, consegue seguidores fiéis em todo o mundo dispostos a lhe entregar as próprias vidas. Um deles é Freddie Quell, um ex-marinheiro viciado em quem Dodd enxerga a si mesmo anos mais novo, inconsequente e sem expectativas para o futuro. Quell é interpretado de forma visceral por Joaquim Phoenix, numa atuação física e emocional de cair o queixo. É difícil assistir a O Mestre e não ficar impressionado com a desenvoltura do ator, que tem aqui o melhor momento de sua carreira e, com toda certeza, é o melhor do ano. Paul Thomas Anderson, ao que parece, se tornou mestre em tirar de seus atores as performances mais arrebatadoras de suas carreiras. Além dos dois atores, também está no filme a adorável Amy Adams, mas o barulho e as indicações recebidas pela atriz pelo papel são injustificados, já que ela pouco faz no filme.

Além da relevante crítica religiosa, O Mestre é também uma crítica social pesada aos Estados Unidos, feita de maneira peculiar pelo diretor: em pequenas sequencias, mesmo que não sendo o foco principal, percebe-se que o sistema, que para o resto do mundo diz-se ser infalível, sofre os mesmos problemas que temos por aqui, cercado por jogos de interesses, corrupção passiva, lobismos e instituições podres. E isto na década de 50, época retratada no filme. A questão é: a realidade atual é melhor ou pior? Que tipo de mensagem o diretor quis passar?

O Mestre era considerado uma unanimidade pelos críticos para ganhar todos os prêmios mais importantes do ano, muito em parte pelo fato de Paul Thomas Anderson ter sido injustiçado pela derrota de Sangue Negro em 2007. No entanto, a temática e a recepção morna em alguns festivais foram minando as chances do longa, bem como o crescimento dos "certinhos" Lincoln e Silver Linings Playbook. A Academia e outros Júris não estão preparados para o Cinema de Paul Thomas Anderson...

Cotação: ***

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica: Os Pinguins de Madagascar

Crítica: Homens de Preto 3

Maiores Astros da Pixar