Crítica: O lado bom da vida

Quem viu Bradley Cooper posando de galã em Se beber, não case jamais diria que ele se tornaria um ator de respeito. Mas os sinais já estavam sendo plantados faz algum tempo. Ele alternava muito bem trabalhos em gêneros como ação, comédia e drama. Em 2011, com Sem Limites, ele supreendeu como o loser que, do dia para a noite, se tornava um bem sucedido homem de negócios em Wall Street graças a uma droga que dava ao seu cérebro habilidades super-humanas. Mas é sob a batuta de David O. Russel que Cooper finalmente atinge o auge do sucesso e entrega sua performance mais envolvente, com os devidos méritos da parceira de elenco e queridinha do momento em Hollywood, Jennifer Lawrence.

Cooper e Lawrence são como uma força da natureza juntos na tela. E a química dos dois atores é muito do que se pode justificar para o sucesso extraordinário que esta comédia familiar vem alcançando em todo o mundo. O lado bom da vida passou, de surpresa dos festivais de Veneza e Toronto, para um dos grandes favoritos ao Oscar de melhor filme nestas últimas semanas. 


E as indicações ajudaram bastante. Além da óbvia para melhor filme, foram contemplados para disputar nas categorias de atuação nada mais nada menos que todos os protagonistas e coadjuvantes principais. Bradley Cooper, Jennifer Lawrence, Robert De Niro e Jacki Weaver estarão na cerimônia disputando a cobiçada estatueta, embora a única óbvia favorita seja a jovem atriz de Jogos Vorazes, que teve um ano de 2012 do qual com certeza vai se recordar com carinho por muito tempo.

O lado bom da vida é a adaptação do romance homônimo do escritor Matthew Quick, que conta a história de Pat, um homem comum que vai à loucura quando descobre a mulher na cama com outro. Após algum tempo em tratamento, ele retorna ao convívio familiar, certo de que conseguirá reatar seu casamento, apesar da insistência dos pais para que não procure a esposa. É quando surge em sua vida Tiffany, uma garota tão desajustada quanto ele que o mostrará um outro lado de sua personalidade que ele desconhecia e a chance de encontrar um outro rumo para continuar sua vida.

Apesar de seguir as premissas básicas do romance, O lado bom da vida altera bastante a história de Pat e Tiffany, para torná-la mais cinematográfica. Vê-se aí uma necessidade de exclusão de alguns personagens e participação muito pequena de outros que tinham maior importância no livro, o que para quem conhecia a obra original acaba sendo decepcionante, e que para quem não a conhece deixa impressão de que alguns personagens estão ali apenas para preencher espaço, sem muita relevância na trama. Este é o principal problema do roteiro de David O. Russel: focar-se demais no casal protagonista e deixar os demais personagens de lado.

Esta questão acaba prejudicando mais, por exemplo, Robert De Niro e Jacki Weaver. O primeiro em menor escala, pois os embates com Bradley Cooper garantem cenas com diálogos ácidos e engraçados, além de uma bela sequencia de reconciliação entre pai e filho. Já com Weaver é mais nítido o desencontro entre a ação e a pertinência da personagem, sem contar o fato da atriz fazer mais caras e bocas do que efetivamente atuar. A indicação ao Oscar parece mais um prêmio de consolação pela derrota depois da performance arrasadora e ignorada em Reino Animal do que efetivamente um merecimento. 

Mas e quanto a Jennifer Lawrence? Embora a jovem atriz esteja ainda mais linda, sua personagem está há léguas de distância da relevância da Ree de Inverno da alma, papel que deu sua primeira indicação ao Oscar. Não se pode ignorar, entretanto, que esta é a chance de Hollywood fazer dela a estrela que todos querem que seja. Assim, é muito provável que ela seja a vencedora.

O lado bom da vida é a comédia da vez na lista da academia, que agora que aumentou sua quantidade de indicados para dez, sempre consegue arrendar mais figurantes para a festa. Se o filme será um protagonista ou se vai apenas ficar observando de longe outros brilharem, saberemos no final de março. O importante é que o gênero de comédia ainda tem pique para fugir de fórmulas e se reinventar, com roteiros espertos e realmente inteligentes. Isso por si só já basta para fazer do filme uma realização especial, que o fato de ganhar ou não um prêmio não vai fazer mudar. 

Cotação: ***

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