Crítica: As aventuras de Pi
É difícil escrever sobre um filme que mexeu com sua emoção de uma forma pessoal. Explicando: tem certas vezes que uma determinada cena, um pequeno plano específico, por menor que seja, tem um efeito muito grande dentro de você, uma reação incontrolável que faz a sensibilidade aflorar de imediato e as lágrimas chegarem sem você perceber. Talvez por se aproximarem de uma situação vivida, ou simplesmente relembrarem um momento específico da sua vida. O Cinema é mestre em provocar estas sensações, mas não são todos os cineastas que sabem conduzi-las sem que pareçam piegas e forçadas, exatamente por que não atingem todo mundo.
Aqui entra a necessidade de um grande talento por trás das câmeras. Ang Lee não precisa de apresentações: o diretor Taiwanês já entregou trabalhos memoráveis como Tempestade de Gelo e O segredo de Brokeback Mountain, além de filmes que se tornaram sucessos internacionais, como O Tigre e o Dragão. Mas nunca, nunca, havia se aprofundado tanto na emoção quanto no belo As aventuras de Pi.
O filme é baseado em um romance homônimo, que conta a história de um garoto indiano que se vê perdido no mar quando o barco em que estava com a família naufraga. Tendo como companhia apenas uma zebra, uma hiena, um orangotango e um tigre de bengala, ele embarca em uma incrível jornada de auto conhecimento, fé e sobrevivência, em que descobrirá o verdadeiro significado da coragem e da perseverança.
Ang Lee construiu seu filme como um verdadeiro poema filmado. Não bastasse o excelente argumento belíssimamente bem trabalhado no roteiro, o diretor utiliza o 3D para conferir às imagens de As aventuras de Pi, que em muitos momentos lembram pinturas em aquarela, um apuro técnico que só pode ser comparado com o que foi feito em Avatar e A invenção de Hugo Cabret.
Não satisfeito em iluminar a tela com imagens tão belas quanto as vistas em A árvore da vida, Ang Lee também desenvolve com muito sucesso a temática religiosa que fazia a diferença no romance que originou seu filme. Pi, que durante a infancia experimentou conhecer diversas religiões afim de encontrar sua própria verdade sobre os mistérios da fé, precisa enfrentar todas as dúvidas que carrega dentro de si quando, no limiar da sobrevivência, desenvolve uma inesperada conexão com o tigre Richard Parker, um misto de temor e amizade. O tigre, inteiramente desenvolvido em computação, é tão real e perfeito quanto as genuínas emoções que passa ao expectador conforme acompanhamos a sua jornada.
Da mesma forma que Tom Hanks em Náufrago, o garoto Suraj Sharma praticamente está sozinho em cena em boa parte do filme, e faz um trabalho fabuloso. Muito da força do roteiro está no desenvolvimento da relação de quase amizade entre o menino e a fera, que quando atinge seu clímax está totalmente amparada em Suraj, que contracena o tempo todo com o vazio. Também é impressionante a transformação física do personagem, conseguida através de inventivos efeitos de câmera e maquiagem. Técnica, aliás, é o que não falta em As aventuras de Pi.
Ang Lee se mostra um mestre no manejo das emoções também na narrativa que transcorre em paralelo à ação principal, quando um Pi adulto (Irrfan Khan) conta a história de sua vida para um escritor em crise criativa que o procura na esperança de inspiração para um novo trabalho. À medida que escuta os relatos, o escritor precisa decidir entre aceitar uma verdade questionável ou a maravilhosa e extraordinária história que lhe é confiada. As metáforas religiosas são tão bem inseridas neste contexto que fica uma imensa vontade de que todos os fanáticos assistam ao filme e façam uma reflexão sobre o verdadeiro significado de suas crenças. Em tempos em que as pessoas esqueceram que as religiões nasceram por atos de amor, e não de violência e intolerância, a mensagem de As aventuras de Pi se torna ainda mais relevante.
Favorito ou não para o Oscar 2013, As aventuras de Pi ganha seu lugar de destaque como um dos mais belos trabalhos de composição visual no ano. É um filme para se assistir e guardar no coração. Você nunca mais irá olhar um animal nos olhos da mesma maneira.
Cotação: ****
Não satisfeito em iluminar a tela com imagens tão belas quanto as vistas em A árvore da vida, Ang Lee também desenvolve com muito sucesso a temática religiosa que fazia a diferença no romance que originou seu filme. Pi, que durante a infancia experimentou conhecer diversas religiões afim de encontrar sua própria verdade sobre os mistérios da fé, precisa enfrentar todas as dúvidas que carrega dentro de si quando, no limiar da sobrevivência, desenvolve uma inesperada conexão com o tigre Richard Parker, um misto de temor e amizade. O tigre, inteiramente desenvolvido em computação, é tão real e perfeito quanto as genuínas emoções que passa ao expectador conforme acompanhamos a sua jornada.
Da mesma forma que Tom Hanks em Náufrago, o garoto Suraj Sharma praticamente está sozinho em cena em boa parte do filme, e faz um trabalho fabuloso. Muito da força do roteiro está no desenvolvimento da relação de quase amizade entre o menino e a fera, que quando atinge seu clímax está totalmente amparada em Suraj, que contracena o tempo todo com o vazio. Também é impressionante a transformação física do personagem, conseguida através de inventivos efeitos de câmera e maquiagem. Técnica, aliás, é o que não falta em As aventuras de Pi.
Ang Lee se mostra um mestre no manejo das emoções também na narrativa que transcorre em paralelo à ação principal, quando um Pi adulto (Irrfan Khan) conta a história de sua vida para um escritor em crise criativa que o procura na esperança de inspiração para um novo trabalho. À medida que escuta os relatos, o escritor precisa decidir entre aceitar uma verdade questionável ou a maravilhosa e extraordinária história que lhe é confiada. As metáforas religiosas são tão bem inseridas neste contexto que fica uma imensa vontade de que todos os fanáticos assistam ao filme e façam uma reflexão sobre o verdadeiro significado de suas crenças. Em tempos em que as pessoas esqueceram que as religiões nasceram por atos de amor, e não de violência e intolerância, a mensagem de As aventuras de Pi se torna ainda mais relevante.
Favorito ou não para o Oscar 2013, As aventuras de Pi ganha seu lugar de destaque como um dos mais belos trabalhos de composição visual no ano. É um filme para se assistir e guardar no coração. Você nunca mais irá olhar um animal nos olhos da mesma maneira.
Cotação: ****
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