Crítica: A Origem dos Guardiões

A Dreamworks cansou da alcunha de estúdio que só produz animações bobinhas de riso fácil. Embora as franquias Shrek e Madagascar continuem por aí (a primeira através de seu derivado, Gato de Botas, e a segunda faturando milhões com seu terceiro e melhor capítulo), o estúdio do menino na lua investiu em tramas mais elaboradas em Kung Fu Panda e no estilo emocional que fez a fama da Pixar com Como treinar seu dragão. Mas com este A Origem dos Guardiões, é dado o passo que faltava para uma superprodução de animação para toda a família.


O filme é baseado na série de livros Os guardiões da infância, do escritor William Joyce, que conta as aventuras de um inusitado grupo de heróis formado por figuras mitológicas como o Papai Noel, a Fada do Dente, o Coelho da Páscoa, o Sandman e Jack Frost, responsáveis por zelar pelas crianças de todo o mundo, e que sobrevivem graças à crença de cada uma delas em sua existência. Mas como em qualquer história, também existe o mal, representado pelo senhor da escuridão e dos pesadelos, o Bicho Papão. Cabe aos Guardiões enfrentar as forças das trevas para proteger a inocência e a pureza.

Embora seja uma produção visivelmente destinada para o público infanto-juvenil, A Origem dos Guardiões não vai aborrecer os pais que forem acompanhar seus filhos ao cinema. A narrativa do filme é dinâmica, as poucas (e boas!) piadas são perfeitamente bem inseridas no contexto e os efeitos em 3D são maravilhosos e muito bem explorados, a começar pelo símbolo máximo do estúdio, aqui representado por Jack Frost, em uma brincadeira que já virou mania nos filmes da casa.

Jack Frost, aliás, é o protagonista da aventura, o que pode soar um pouco estranho para o público fora do eixo saxão, onde esta figura mitológica - bem como o Sandman - é menos conhecido. Mas a apresentação do personagem já no prólogo do filme ajuda, e ainda deixa claro que o tom aqui é diferente do que costumamos ver nas animações da Dreamworks. A Origem dos Guardiões toca em temas profundos como solidão, mas de uma maneira doce e de fácil leitura para as crianças menores. 

Como em qualquer trabalho de um grande estúdio de animação hoje em dia, o design de produção é um dos grandes diferenciais. Em A Origem dos Guardiões, o visual dos personagens é o que mais chama atenção. Os clichês da representação do Papai Noel e do Coelho da Páscoa são abandonados por completo: o bom velhinho mantém sua barba branca e os quilinhos a mais, mas está com o corpo repleto de tatuagens e luta empunhando duas espadas; o Coelho tem mais de 1,80 m de altura e um porte físico de dar inveja ao dono de sua voz, o australiano Hugh Jackman. Mas é Sandman que rouba todas as cenas em que aparece, e a sacada de se comunicar através de símbolos (ele não fala!) garante muita criatividade e boas risadas.

O diretor Peter Ramsay realizou um excelente trabalho nesta estreia, sabendo conduzir o bom roteiro e dando espaço para que todos os personagens tivessem seu grande momento. O elenco é fantástico: além de Hugh Jackman, temos Jude Law, Alec Baldwin e Chris Pine. Este excesso de estrelas pode ser comprometedor para os planos do estúdio, que espera começar uma nova franquia, pois engorda demais o orçamento, que nestas produções já é geralmente inflado. A dublagem brasileira, apesar de ainda contar com globais, acertou o tom desta vez (ao menos não temos absurdos como Luciano Huck). 

A boa recepção da crítica já credencia A Origem dos Guardiões como um dos candidatos ao Oscar de melhor animação em 2012. Meu maior interesse, no entanto, é acompanhar esta nova fase do estúdio, que no ano que vem não investirá em sequencias e vai entregar três produções originais, os aguardados The Croods, Turbo Mr. Peabody & Sherman. Que venham mais e mais animações de qualidade para aqueles que amam esta arte incrível de se contar histórias!

Cotação: ***

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