Crítica: O Impossível

A tragédia da Tsunami que atingiu a Ásia durante as festas de fim de ano em 2004 é um evento ainda dolorosamente recente para um grande número de famílias em todo o mundo. Diferente de outros tantos incidentes da nossa história causados pela intolerância humana, aqui, a fúria da natureza foi a responsável por milhares de mortes e por um cenário de devastação nunca antes visto.

Dentre as muitas histórias que poderiam ser contadas sobre o incidente, a da família espanhola que conseguiu sobreviver ao ataque furioso do mar e se reencontrar naquele cenário de caos é uma das mais impressionantes. E foi a escolhida pelo diretor Juan Antonio Bayona para seu primeiro trabalho em Hollywood, o visceral e doloroso O impossível.


O diretor de O Orfanato já havia demonstrado no terror espanhol que não tinha pena de fazer a plateia sofrer. Mas aqui, a experiência acaba sendo muito mais perturbadora, pois é sabido que se trata de uma história real. O impossível não choca necessariamente pelas imagens do momento da tragédia (já anteriormente representadas com esmero no filme de Clint Eastwood Além da Vida), mas sim pela forma extremamente realista que o diretor escolheu para apresentar o sofrimento das pessoas durante a invasão brusca do mar, que carregou hotéis de luxo e deixou as paradisíacas paisagens do litoral tailandês irreconhecíveis. 

Bayona não poupa o público - e nem seus atores, com maior destaque para a sempre excelente Naomi Watts - de sequencias longas de traumas, lacerações e mutilações, que chegam a espantar pela riqueza de detalhes e perfeição na realização. Além de todo apuro técnico na ação, é de impressionar também a destreza com que é utilizada a computação gráfica para a criação dos grandes cenários da devastação, muitos deles reproduzindo em mínimos detalhes fotografias reais.

Não é de impressionar que o cineasta espanhol consiga entregar um trabalho técnico tão perfeito com O impossível. Dentre os profissionais de sua equipe, destacam-se o desenhista de produção Eugenio Caballero, um dos responsáveis pela beleza indiscutível de O labirinto do fauno, além de Óscar Faura, fotografo que já havia impressionado na sua outra colaboração com Bayona em O orfanato. A música de Fernando Velázquez também é um espetáculo à parte. O diretor simplesmente chamou os profissionais que representam o que há de melhor no cinema latino mundial.

Fosse pelo medo de abrir as feridas que ainda não cicatrizaram, por questões comerciais ou simplesmente pela inexperiência (trata-se apenas de seu segundo longa metragem), Bayona optou por pontuar seu filme com sequencias que carregam demais no melodrama, o que por vezes se torna repetitivo e cansativo. O impossível não é, na concepção, um filme fácil de ser visto, logo, não necessariamente precisaria da utilização de recursos de linguagem para tentar torná-lo mais acessível ao grande público. Se não compromete o resultado final, acaba tirando da película o status de obra prima que ela apresenta nos seus minutos iniciais (de forma muito semelhante ao que ocorreu ao filme de Steven Spielberg, O resgate do soldado Ryan, que começa promissor e vai derrapando conforme o tempo vai passando).

Embora não entre para a lista dos grandes filmes de 2012, O impossível cumpre seu papel de relembrar o quão importante é para o ser humano respeitar o poder da natureza. Não por que Nostradamus, os Maias ou a Mãe Dinah disseram que estamos perto do fim, mas sim por que temos provas claras de que nosso planeta está querendo dar um basta. Para isso ninguém precisa ser adivinho.

Cotação: ***

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