Crítica: Ted

Seth McFarlane tornou-se famoso por ser o escritor e diretor das animações Uma família da pesada (uma espécie de Os Simpsons, mas sem personagens amarelos) e American Dad. Apesar do sucesso na TV desde 1995, ele ainda não havia tentado a sorte no cinema. Pelo menos até 2012.

Ele deve estar bastante feliz. Seu filme Ted tornou-se um dos maiores sucessos do verão americano, arrecadando milhões nas bilheterias, virando febre nas redes sociais e gerando até polêmicas desnecessárias (como o caso do deputado brasileiro que queria proibir o filme por considerá-lo nocivo para os menores - oras, ele não deveria saber que a censura americana era R, ou seja, menores apenas com autorização dos pais). O urso desbocado, maconheiro e mulherengo era por demais engraçado, pelo menos na teoria. No entanto, existem piadas que não foram feitas para serem contadas repetidas vezes, muito menos para segurarem um filme de quase duas horas de duração. 


A sensação que Ted passa é exatamente aquela da piada longa que lá pela metade já não tem mais graça. Talvez se fosse um curta metragem ou um episódio de uma das séries animadas de McFarlane, a história funcionasse, ou ao menos não se tornasse tão repetitiva. O fato é que, ao assisti-lo, tudo parece muito familiar. 

O filme começa promissor, contando a história do garoto John, que cansado de estar sempre sozinho, pede de todo coração que seu urso de pelúcia ganhe vida. As sequencias são contadas em formato de sátira aos prólogos de contos de fadas, e são simplesmente geniais. Em seguida, passagens rápidas mostram o amadurecimento do garoto e do seu companheiro peludo até o atingimento da idade adulta, em que ele, já interpretado por Mark Wahlberg, se torna um perdedor nato, mas que consegue amarrar uma mulher maravilhosa e bem sucedida (Mila Kunis). 

A partir daí, o filme perde em personalidade. John e Ted passam o dia assistindo filmes B de ficção científica (entre eles Flash Gordon, com direito a Sam J. Jones pagando mico atuando como ele mesmo) e fumando maconha esparramados no sofá. Em paralelo, um arremedo de trama tenta ser desenvolvido, envolvendo o chefe da personagem de Kunis e um homem meio afetado que quer que Ted seja o brinquedo do seu filho (as motivações são as mais fracas possíveis). Para piorar, os atores estão bastante canastrões. Só se salva mesmo o "intérprete" de Ted, o próprio diretor, que empresta sua impostação de voz ao personagem com muito talento. Também são destaque os efeitos especiais de ponta que garantem uma interação perfeita do urso com o ambiente.

Não fossem esses pequenos acertos e uma dose de nostalgia de cultura pop, Ted seria completamente dispensável. A trama não tem o frescor necessário para se manter engraçada, apostando demais na imagem repetida do urso fazendo algo que não é compatível com a ideia que se tem do brinquedo que ele representa. Isso cansa, e só ofenderia alguém se a pessoa em questão fosse realmente muito limitada. 

O sucesso comercial já garantiu para Ted uma continuação, que deve chegar aos cinemas em no máximo dois ou três anos. Não imagino que tipo de argumento eles irão utilizar, mas como criatividade nem sempre é o que conta, não achem estranho se o título for Ted, um urso perdido em Nova York. Se esse filme é capaz de ofender alguma coisa, será no máximo a sua inteligência.

Cotação: *

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