Crítica: O Legado Bourne

A obra de Robert Lundlum que contava a trajetória do desmemoriado Jason Bourne transformou a literatura de espionagem. No cinema, não foi difente: depois de um fraco A identidade Bourne, a cinessárie encontrou um diretor de peso (Paul Greengrass) e tomou o rumo de espetáculo com A supremacia Bourne e O ultimato Bourne, transformando a forma de se fazer filmes de ação.
 
O sucesso parecia indicar que viriam outros filmes. Mas havia um problema: Matt Damon e Paul Greengrass não queriam continuar a contar histórias de Jason Bourne. Para ator e diretor, o ciclo havia se fechado no terceiro e excelente filme. Mas a Universal queria continuar a faturar com a franquia, e num passo extremamente arriscado, resolveu partir para uma espécie de recomeço com outros atores.
 
O Legado Bourne nasceu desta jogada. Contanto com um diretor com experiência como roteirista (Tony Gilroy, responsável pelo texto de sucessos como Advogado do Diabo e dos dois últimos Bourne) e um novo astro que passa por um grande momento na carreira (Jeremy Renner, de Guerra ao Terror, Missão Impossível 4 e o hit do ano Os Vingadores), o filme acerta em manter o tom dos seus antecessores e construir uma nova e interessante mitologia.
 
 
A trama foi construída mostrando acontecimentos paralelos aos ocorridos em O ultimato Bourne. Descobre-se que o programa que formou Jason Bourne não é o único, e o incidente com o agente desmemoriado força o governo a desistir dos demais, encomendando uma ação de assassinato de todos os seus membros espalhados pelo mundo. Um deles, Aaron Cross (Renner), sobrevive e se junta a uma cientista que também seria descartada por queima de arquivo (a belíssima Rachel Weisz) para conseguir acesso a um dos segredos do programa que seria capaz de salvar sua vida.
 
Mesmo que não tenha sequencias memoráveis como seus dois antecessores, O Legado Bourne possui um roteiro bem amarrado e que respeita a cronologia da série de filmes até aqui. O grande problema do filme é em termos de ritmo: seu início é lento, alterna imagens de jogos de bastidores do personagem de Edward Norton (sempre competente) e do treinamento de Cross nas terras isoladas do Alasca, e perde tempo demais com referências explícitas ao personagem de Matt Damon (menções e fotos aparecem à exaustão, parecendo o tempo todo uma forma de lembrar o público de que aquilo ainda era a série Bourne). Isto sacrifica a ação, que demora a engrenar e sempre foi o ponto alto da franquia.
 
Mas os erros acabam por aí. Depois de uma chocante cena de extermínio em massa em uma sala de laboratório (ao melhor estilo Sam Raimi em Uma noite alucinante), não sobra mais muito tempo para respirar em O Legado Bourne. Jeremy Renner mostra que está em forma e encara sequencias inteiras que exigem coreografias de luta elaboradas e impressionantes movimentos de parkour (que se tornou moda no cinema de ação), e a todo momento fica a expectativa de um embate com Edward Norton, que infelizmente não ocorre. Não temos aqui uma montagem inovadora ou uma fotografia vanguardista, mas salta aos olhos a perfeição do terceiro ato, que apresenta uma cena de perseguição das mais bem realizadas nos últimos tempos.
 
Fosse porque o diretor conhecia o material da trilogia com a palma da mão por ter sido responsável pelo roteiro, é fato que para um filme que se prometia um recomeço, a necessidade de lembrar dos detalhes da trilogia para entendê-lo poderia parecer ser um tiro no pé, mas deixa clara a intenção de fazer Matt Damon voltar no futuro. Seria bastante interessante um embate entre os dois agentes, cada um com suas motivações para a revanche, mas que poderiam inicialmente ser rivais ou até inimigos. As possibilidades são muitas.
 
O Legado Bourne não empolgou os americanos, mas fez bonito em sua estreia mundial, com uma arrecadação no nível dos filmes anteriores. A Universal já garantiu a sequencia para os proximos anos, o que coloca Jeremy Renner na posição de maior astro de franquias do cinema atual (ele ainda vai retornar em Vingadores 2 e tudo faz crer que no próximo Missão Impossível). Agora é torcer para que problemas de agenda não atrapalhem.
 
Cotação: ***
 

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