Crítica: Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge

Em muito tempo o cinema não via uma temporada tão esperada de filmes como foi a do verão americano de 2012. Iniciada com Vingadores em abril, e tendo como outro destaque Prometheus, em junho, a ansiedade não era pouca para os fãs destas franquias. No entanto, nenhuma espera causava tanto furor quanto a de Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge.

A expectativa era bastante justificável: em 2008, Batman, o Cavaleiro das Trevas tomou o mundo com uma trama assombrosa que respeitava os quadrinhos mas também ousava em liberdades criativas de seu diretor, que transformou para sempre a forma de se fazer um filme baseado em HQs; dois anos depois, quando ninguém acreditava que Christopher Nolan pudesse fazer um filme ainda melhor, chegou aos cinemas o inventivo e impressionante A Origem, que se tornou o maior sucesso crítico do diretor e foi indicado ao Oscar de melhor filme. Nolan mostrou que tinha em sua filmografia uma regularidade invejável, onde cada filme seguinte, mesmo que não fosse superior em todos os aspectos, chamava a atenção pela qualidade cada vez mais evidente.

Nem é preciso ser adivinho para saber que a estréia do filme seria um sucesso, mas, infelizmente, o incidente em uma cidade americana, em que um jovem entrou em uma sala de cinema que exibia o filme e atirou na platéia, matando 12 pessoas e ferindo outras quase 50, acabou prejudicando sua campanha de lançamento, com premiéres ao redor do mundo sendo canceladas em respeito às vítimas da tragédia. No entanto, mesmo com números de bilheteria abaixo das expectativas do estúdio, Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge conseguiu repetir as críticas entusiamadas de seu antecessor e coroou a trilogia do Homem Morcego com um final à altura de sua grandeza.


Nolan não decepcionou quando o assunto é escala: seus filmes são sempre maiores que os que os antecederam. Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge já explicita esta afirmação logo em sua primeira sequencia, um sequestro de um avião em pleno ar que apresenta de forma assombrosa o vilão da vez, Bane, que na história de Nolan se tornou um mercenário perigoso com uma mente afiada e uma força física capaz de intimidar qualquer inimigo, até mesmo o cavaleiro das trevas. A grande pergunta do final desta trilogia era respondida logo de cara: seria Nolan capaz de mostrar no seu último trabalho com o morcego um vilão tão emblemático quanto foi o Coringa no filme anterior? E é um gosto dizer sim. Se Bane não tem a presença marcante do Coringa, que contou com a atuação visceral do falecido Heath Ledger, consegue ser uma ameaça física real, em contraposição ao que ocorreu anteriormente, em que os nêmesis do herói eram ameaças apenas psicológicas. Tom Hardy, que havia sido um dos destaques em A Origem, aproveita o grande momento fazendo de Bane mais uma atuação consistente em sua carreira: a imposição de voz que deu ao vilão é o ponto alto de sua performance.

Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge é claramente um filme que finaliza os eventos contados nos anteriores. Mesmo que não tivesse planejado uma trilogia quando realizou Batman Begins, é fato que Chris Nolan e seu irmão, responsável em conjunto pelos roteiros dos três filmes, teceram uma trama neste recomeço cinematográfico do morcego que abria possibilidades interessantes. E todas elas acabaram sendo aproveitadas com êxito. Mesmo dizendo abertamente em todas as suas entrevistas que seu trabalho em Ressurge fechava um ciclo, o diretor nunca havia deixado claro se deixaria pontas soltas para, se o estúdio quisesse, alguém revisitasse este seu universo. Pois é, Nolan é mestre em manter os segredos das suas produções, e conseguiu mais uma vez. Quando o filme acabar, você será atingido fortemente pela emoção para em sequencia ficar surpreso com uma nova e empolgante possibilidade.

O elenco genial desta trilogia tão aclamada é presenteado de uma forma única neste filme. Nolan constrói a trama de forma a dar a cada personagem seu momento de brilho. Gary Oldman e Morgan Freeman, principalmente. Gordon é um dos grandes heróis deste encerramento da trilogia, e o ator ainda aproveita toda sua genialidade para colocar os dilemas morais do personagem em evidência apenas no olhar. Uma atuação fantástica, focada em nuances, bem ao estilo do ator. Como Lucius Fox, Freeman, que sempre foi a âncora de Bruce Wayne nos filmes permitindo sua escalada como vigilante, aqui tem seu apoio fundamental para acabar com a ameaça à Gotham não apenas com fornecimento de tecnologia: ele coloca efetivamente a mão na massa. Uma adição excelente ao elenco foi  Joseph Gordon-Levitt, que impressiona como o jovem policial Blake, personagem que era o grande mistério do filme. Sua participação é vital e importantíssima para o andamento da trama, e ainda deixa um gostinho no final quando o público percebe que ele não passa de mais uma visão de Nolan de um personagem importante na cronologia do morcego. Vocês podem me perguntar: e Michael Caine? Bem, não se poderia esperar menos de um ator de seu porte, e Nolan dá para Alfred um desfecho que é a grande válvula emocional do filme, e, se houver justiça, conseguirá a indicação ao Oscar de coadjuvante para o ator, que faz dos poucos momentos do personagem passagens memoráveis.

No lado feminino do elenco, está a grande surpresa e a maior decepção de Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge. Se Nolan usou e abusou de sua genialidade como criador de personagens para construir a nova Mulher Gato do cinema - interpretada com um misto de inocência, sensualidade e perigo por Anne Hataway - faltou o mesmo cuidado com a Miranda Tate de Marion Cotillard. A atriz francesa, que é sabidamente uma intérprete fenomenal, parece perdida no personagem, e nem sua virada final (que acontece um pouco tarde, diga-se de passagem) consegue tirar esta impressão. Hataway, no entanto, faz algo parecido com o que Heath Ledger fez como o Coringa: dá um tapa de luva de pelica em todos que questionaram se ela seria a melhor atriz para o papel. Sua Mulher Gato é um personagem muito diferente daquele que marcou Michelle Pfeifer em Batman, o retorno. Não se gasta tempo criando uma história de origem para a ladra: Nolan simplesmente a encaixa na ação, aproveitando suas características clássicas dos quadrinhos e mais uma vez inovando em seu visual. Um verdadeiro deleite para os olhos dos marmanjos.

Mas existe um personagem a mais que vale a pena ser destacado em Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge: Gotham. A metrópole recebeu de Nolan uma transposição para o celulóide tão perfeita que será dificil imaginá-la de outra forma nos cinemas. Mas se a inspiração de Nolan variava entre Nova York e Chicago nos filmes anteriores, aqui fica claro que Gotham é a Grande Maça, seja pelas belíssimas tomadas aéreas, seja pela relevância que suas locações marcantes têm para a trama, da 5a avenida à Wall Street. Nolan faz uma exposição brilhante da maior metrópole do mundo, e ainda faz uma crítica social e política corajosa nas entrelinhas que vai provocar um certo rebuliço, principalmente considerando que estamos em ano de eleições nos EUA.

Se você como eu tinha ficado de boca aberta com o ritmo alucinante de Batman, o Cavaleiro das Trevas - uma montanha russa que não deixava a platéia respirar - não ficará nem um pouco decepcionado com Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge. Nolan permanece acompanhado de seu montador de confiança Lee Smith, e embora o filme demore um pouco mais para engrenar, quando acontece o efeito é similar ao seu antecessor. Outro ponto a destacar é a sensação de urgencia que Nolan imprime em todo o terceiro arco da história: vai ser comum ver o publico angustiado na poltrona do cinema. O diretor amplifica seu já consagrado estilo e comanda um espetáculo claustrofóbico, que ainda é elevado à décima potência se você estiver assistindo em IMAX (mais da metade do filme foi filmado com as câmeras gigantes) pela beleza das imagens - cortesia, mais uma vez, de uma direção de fotografia perfeita.

Se Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge superou ou não seu antecessor, não é mais importante: Nolan conseguiu fechar uma trilogia que entra para a história do cinema e que merece ser avaliada como uma obra única, sensacional e indescritível. Sobre o filme, de forma isolada, posso dizer: deixará todos os fãs do herói com sorrisos no rosto e também todos os que gostaram do mundo que este diretor fantástico criou para o herói. Não tem coisa melhor do que assistir um filme que quando termina é aplaudido todas as vezes! Essa é a verdadeira magia do cinema!

Cotação: ****

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