Crítica: Batman, o Cavaleiro das Trevas

Quando Batman Begins estreou, Cristopher Nolan tinha prometido fazer de seu filme um marco para o gênero de adaptações de histórias em quadrinhos. Ele estava certo. Mas sua maior cartada ainda estava por vir, como ficou claro na cena final do filme de 2005. Nolan havia preparado uma entrada para seu espetáculo mais grandioso: Batman, o Cavaleiro das Trevas. O filme chegou aos cinemas arrematando milhões nas bilheterias, ganhando o respeito do público e da crítica, e alçou a um patamar quase inalcançável o que seria um filme de super heróis.

Mas o caminho até esse grande sucesso não foi fácil. Nolan enfrentou diversos problemas desde a pré-produção, mas teve o apoio de uma campanha de divulgação das mais bem sucedidas em muitos anos, que praticamente definiu o que seria o marketing viral daquele momento em diante em Hollywood.


Houve quem disesse que o êxito de Batman, o Cavaleiro das Trevas também se deveu em muito ao marketing gratuito que o filme ganhou com a tragédia que antecedeu seu lançamento, a morte do ator Heath Ledger, que interpretou de forma visceral e brilhante o principal vilão do filme e maior adversário do Homem Morcego nos quadrinhos: o Coringa. É verdade que a notícia de que o ator poderia ter sido psicologicamente afetado pelo personagem em sua vida pessoal deixou muita gente curiosa, mas é muito pouco para explicar uma trajetória tão vitoriosa e os mais de 1 bilhão de dólares que o filme gerou em todo o mundo (tornando-se, até então, a mais lucrativa adaptação de quadrinhos da história do cinema). Toda a expectativa gerada pelo seu ótimo antecessor e, obviamente, a vontade de saber o que Christopher Nolan iria fazer com o Cavaleiro das Trevas depois de ter estabelecido seu universo com tanta maestria seriam justificativas muito melhores.

Batman, o Cavaleiro das Trevas, no entanto, sequer poderia ser considerado como apenas um filme que adapta uma história em quadrinhos, e isso ficou claro logo em seus primeiros minutos, com uma das aberturas mais impressionantes de um filme na história do cinema. Além de apresentar ao público pela primeira vez a sua visão do Coringa, o diretor abria as cortinas para uma trama urbana que explorava o que havia de melhor em filmes policiais, thrillers e suspenses psicológicos. Sem perder tempo por já ter a origem do personagem contada, pôde concentrar-se nos seus personagens e na mitologia do herói e de sua rivalidade com seu maior inimigo.

Se o roteiro já era uma estrela em Batman Begins, não existiriam predicados suficientes que definissem o que era o script deste filme sensacional: a estrutura perfeitamente delineada; os diálogos maravilhosos que grudavam na memória; o desenvolvimento da ação e dos personagens. Falar é pouco, é preciso assistir inúmeras vezes para captar toda a essência deste trabalho genial, principalmente se você tem curiosidade de pegar o roteiro literário, não decupado, para enxergar o quão arrojada é a visão fílmica deste diretor que já pode ser considerado um dos grandes nomes da sétima arte em todos os tempos.

Nolan iniciara sua visão do Batman discutindo a essência de Bruce Wayne, e sua luta interna para descobrir como funcionava a mente criminosa, para atacá-la onde se fragilizasse. A partir daí é tratada a essência de Batman, o Cavaleiro das Trevas: o Coringa não era um criminoso comum. Ele não tinha objetivos específicos para praticar seus atos criminosos, apenas acreditava existir para completar a existência do Batman, uma espécie de yin-yang macabro. Ele era pura e simplesmente um agente do caos. O confronto entre o herói e o vilão, que ainda foi otimizado com a presença dúbia do anti-herói Harvey Dent - que passa boa parte do filme sendo o promotor público de caráter inabalável mas que aos poucos mostra sua verdadeira essência até transformar-se de vez no Duas Caras - se tornou o ponto chave do filme, e proporcionou ao público um verdadeiro espetáculo.

Além de uma visão de linguagem cinematográfica apuradíssima, Nolan também se mostrou um mestre na utilização dos recursos - dos mais simples aos mais sofisticados - para contar a sua história. As gigantes câmeras do IMAX se tornaram uma fixação, e contribuíram para que sequencias inteiras - como as que foram filmadas em Hong Kong - se tornassem ainda mais impressionantes. As soluções de montagem utilizadas por Lee Smith, colaborador constante do diretor, transformaram a dinâmica do filme, que se desenrola com fluidez e não dá tempo sequer para a platéia respirar. Também é importante destacar a importância da sinergia entre o diretor e seu fotógrafo, Wally Pfister, outro colaborador recorrente: cenas como a da festa na cobertura de Bruce Wayne, em que o Coringa aterroriza os convidados e o interesse amoroso do herói - com direito a um travelling de fazer inveja a muito cineasta veterano - são a prova de que manter a equipe criativa em diversos trabalhos em sequencia só contribui para a perfeição.

Gotham é uma das maiores cidades do Universo DC, e este fato nunca ficou alheio para Nolan em seus filmes do Homem Morcego. A metrópole é representada de forma muito fiel aos quadrinhos, e a utilização de locações que alternam Nova York, Pittsburg e Chicago contribuem para dar à ela a dimensão necessária de uma verdadeira Gomorra. A cidade está ainda mais povoada que em Begins, e a expansão do elenco que já era grandioso ajudou a tornar sua história ainda mais envolvente. Obviamente que falar das atuações do filme sem perder muitas linhas falando de Heath Ledger seria uma tolice terrível. E pensar que quando a Warner anunciou que o ator seria a nova cara do vilão clássico dos quadrinhos, muita gente torceu a cara. Ledger não atuou em Cavaleiro das Trevas: ele se transformou. O Oscar póstumo apenas serviu para deixar ainda maior aquela vontade louca de um dia poder apertar a mão do cara e dizer o quão importante foi aquela sua atuação. Uma pena saber que nunca ninguém conseguirá fazer isso...

Quase cinco anos depois de seu lançamento, Batman, o Cavaleiro das Trevas ainda permanece insuperável. A chance será novamente dada ao próprio Nolan, que pretende fechar sua trilogia com um filme ainda mais impressionante, o aguardado Batman, o Cavaleiro das Trevas Ressurge. Mas se ele será maior ou menor, melhor ou pior, mais ou menos marcante, pouco importa. Esta grande trilogia já tem o seu devido e merecido lugar na história do cinema.

Cotação: ****

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica: Os Pinguins de Madagascar

Crítica: Homens de Preto 3

Maiores Astros da Pixar