Crítica: Os Vingadores

Quando se é moleque, é comum a imaginação dar saltos e você se imaginar no centro da ação daquele seu gibi favorito, empunhando um escudo ou um martelo mágico contra vilões e ganhando a mocinha no final. Nossos pais favorecem esta fantasia, seja através de brinquedos, cards, figurinhas ou até mesmo aquele traje bobinho para o baile de carnaval. Mas hoje aquela criança que vive lá dentro do nosso coração tem um recurso ainda mais eficiente para fazer sua imaginação voar. 

O Cinema é um dos maiores realizadores de sonhos da indústria do entretenimento. Graças à sétima arte, descobrimos que um homem era capaz de voar, ainda lá na já distante década de 70; conhecemos mundos fantásticos que antes só poderiam ser vistos nas páginas de livros; admiramos animais gigantescos que sumiram da face da terra à milhares de anos; saímos de nosso planeta rumo ao universo infinito e fomos expectadores de fabulosas guerras nas estrelas. Não havia mais fronteiras para onde o Cinema poderia nos levar. E numa evolução que estava sendo preparada desde 2008, a Marvel deu seu maior presente aos seus milhares de fãs no mundo todo: utilizou o Cinema para levá-los para dentro do gibi.

Desde Superman e do Batman de Tim Burton, os filmes de quadrinhos já faziam sua história nas telas, maturada no século 21 pelas franquias X-men e Homem Aranha, e galgada ao status de arte com Batman, o cavaleiro das trevas. Mas a Marvel tinha idéias mais grandiosas: queria criar seu universo de heróis usando os recursos gráficos ilimitados, hoje, da linguagem cinematográfica. Esse longo percurso de 5 anos e 5 filmes - Homem de Ferro, O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Thor e Capitão América - o primeiro vingador - resultou neste espetáculo que é Os Vingadores. 


Todo fã de quadrinhos terá uma dívida eterna com Joss Whedon daqui para a frente. O nerd mor da televisão, que já havia criado as séries Buff, Angel e Firefly - tendo no Cinema experiência apenas na adaptação da última para a tela grande, Serenity - a luta pelo amanhã - e trabalhou em um dos arcos mais celebrados dos X-Men nos quadrinhos, tinha há anos seu nome vinculado a este ou aquele projeto de adaptação de um personagem de HQ para o Cinema (o mais incisivo foi o de Mulher Maravilha, que chegou a ter um belíssimo teaser pôster), mas os projetos nunca saiam do papel. Foi com a recusa de John Favreau para dirigir Os Vingadores  para a Marvel, depois do sucesso dos dois Homem de Ferro, que as portas se abriram para o cara que acabou transformando o conceito do que é adaptar uma história em quadrinhos - outra vez!

Vale aqui lembrar que Christopher Nolan já havia mudado os conceitos em Hollywood com O cavaleiro das trevas: a ideia de um filme adulto de quadrinhos seria de um mundo mais realista, obscuro e com personagens humanizados. Nolan transformou sua trilogia do Homem Morcego - que chega ao fim em julho, com o aguardado O cavaleiro das trevas ressurge - em um espetáculo cinematográfico, em uma série policial das mais celebradas. Mas não era isso que Joss Whedon queria fazer de seu Vingadores.

Talvez a visão de fã de quadrinhos e quadrinista tenha sido vital neste processo. Whedon fez de Vingadores uma HQ filmada, extremamente fiel ao material original de mais de 50 anos de quadrinhos da Marvel. Não só isso: respeitou de forma absurda a cronologia dos filmes da casa das ideias no Cinema, sem deixar nenhum furo até para aqueles expectadores mais exigentes. Conseguiu o que parecia ser impossível: reunir em um único filme o lado científico, o lado fantasioso e o lado cósmico das sagas da Marvel. Resumindo: Joss Whedon realizou um verdadeiro trabalho de gênio.

Tudo que você queria ver dos heróis está lá, e todos tem seu momento para brilhar. O roteiro consegue de maneira eficiente adequar a ação ao nível de poderes de cada um dos personagens, fazendo com que não seja inverossímel o fato de humanos comuns como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro lutarem ao lado de gigantes como Thor e o Hulk. As sequências de ação são tão bem orquestradas por Joss Whedon que às vezes você até esquece que está assistindo um filme: parece que estamos folheando as páginas do gibi. Não por menos, o nível de profissionalismo do diretor se mostra ainda mais apurado nos planos da batalha de Nova York, no terceiro ato: a câmera percorre a ação de um lado a outro, e você avista os heróis dando sopapos no chão, no alto dos prédios, nas naves aliens. É de encher os olhos e fazer vibrar o coração de qualquer fã.

Não é nada fácil reunir tantos egos diferentes em um filme deste porte, e a Marvel aqui mostrou uma maturidade que deverá dar as cartas daqui para a frente no jogo de interesses que é Hollywood. Obviamente que o grande astro do filme era Robert Downey Jr, graças ao seu Tony Stark, um dos trunfos da ascensão da Marvel Studios no cenário cinematográfico. Mas ele não é o dono do filme: Os Vingadores congrega com doses iguais as receitas e as personalidades já trabalhadas em todos os filmes solo dos heróis, e só não é uma experiência completa pela mudança que houve de ator para o papel de Bruce Banner. O Hulk, aqui, é vivido por Mark Ruffalo em um atuação contida mais próxima do que foi o alter ego do herói na famosa série de TV. Ponto para ele e mais uma vez para a direção: todos os atores estão impecáveis.

Quem é fã claramente terá mais momentos de prazer ao assistir Os Vingadores. A alardeada cena pós-créditos entrega o verdadeiro vilão por trás da ameaça de Loki - mas se você prestar atenção, isto já fica claro desde a cena de abertura do longa. Obviamente que a aparição nos créditos finais serve como um gostinho maior do que está por vir, e a chance do estúdio continuar com sua receita de sucesso de fazer o povo urrar de prazer mesmo depois de terminada a sessão: mais nerd que isso, não poderia ficar.

Os Vingadores é um grande presente da Marvel para os fãs de quadrinhos, e também para o público em geral, pois é um excelente filme de ação e aventura. Enquanto escrevo esta crítica, a bilheteria mundial - sem contar os EUA, maior mercado do mundo e onde o filme estreará apenas na semana que vem - já havia atingido os 36 milhões de dólares apenas nas sessões da meia noite de quinta feira. Sucesso merecido, e que garante a desde já esperada sequencia da aventura. Obrigado, Joss Whedon, por me fazer voltar a ser criança por 2h20min. 

Cotação: ****

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