Crítica: Shame

O cinema americano sempre foi especialista em buscar no mundo os melhores profissionais para brilharem em sua milionária indústria. Com os atores não é diferente, e Michael Fassbender é um deles. O alemão começou a impressionar já em seu primeiro trabalho em Hollywood, como o soldado Stelios em 300. A fama se tornou maior ao fazer parte da gangue de Tarantino em Bastardos Inglórios, em que teve oportunidade de atuar em sua língua pátria. Mas foi em X-men Primeira Classe que o gostinho do sucesso se tornou mais evidente ao entregar uma memorável atuação como o mutante Magneto.

Parecia que a consolidação da carreira do ator se daria no mundo dos blockbusters, mas felizmente isso não ocorreu. E a prova são os contundentes trabalhos que ele realizou em Um método perigoso, de David Cronenberg, e neste excelente e pesado drama Shame.


O segundo filme do diretor Steve McQueen discute a questão da compulsão sexual sem ter medo de ser polêmico. Fassbender vive Brandon Sullivan, um homem bem sucedido em sua vida profissional e financeira, mas que esconde por trás das roupas elegantes uma necessidade incontrolável de saciar seu desejo inacabável pelo prazer sexual. Seu dia a dia sofre uma mudança radical quando ele resolve abrigar a irmã problemática em sua casa. Ao mesmo tempo em que ele vê sua privacidade tornar-se cada vez menor, sua percepção de sua vida muda por completo ao finalmente perceber que é tão doente quanto a irmã, e que talvez a única forma de curar sua compulsão seja ajudando-a a livrar-se da dela.

A forma escolhida por McQueen para conduzir o excelente roteiro de Abi Morgan (que também foi responsável pelo texto de A dama de ferro) é o grande motor de Shame. Mesmo as polêmicas imagens que o filme apresentou e que dividiram opiniões mundo afora não são gratuitas: tudo está lá para tornar a jornada do público tão desconfortante quanto o dia a dia dos dois irmãos que, em seu íntimo, escondem a vergonha que sentem pelo próprio estilo de vida, mas que são fracos para lutar contra este sentimento. A montagem de Joe Walker e a trilha sonora de Harry Escott ajudam a compor o clima claustrofóbico e pesado necessário para a sensação que McQueen quer passar para a platéia.

Se Fassbender chama atenção pela elegante atuação como o protagonista, Carey Mulligan não faz por menos ao viver a, podemos dizer, antagonista do filme. A jovem atriz se mostra ainda mais segura do que no excelente Educação, e faz valer as apostas de que será uma das grandes atrizes desta geração. Sua atuação sem exageros se destaca, principalmente quando está dividindo a tela com Fassbender. A interação entre os dois atores é notável, e ajuda muito nos excelentes - e também fortes - diálogos entre seus personagens.

Shame não é um filme fácil de ser visto, e este realmente não é seu propósito. É cinema para gente grande de verdade, e não no sentido de maturidade da palavra: você precisa gostar mesmo de cinema para curtir a experiência. Vergonha maior para alguém que se diz cinéfilo é deixar de assistir.

Cotação: ***

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