Crítica: John Carter

A Disney não costuma errar na estratégia de marketing e distribuição de seus filmes, mas sempre tem uma primeira vez. Uma pena que justamente com um trabalho promissor de um grande diretor - Andrew Stanton, o gênio da Pixar por trás de obras primas como Wall-e e Procurando Nemo - os executivos da casa do Mickey tenham errado a mão e feito uma verdadeira lambança. John Carter merecia muito mais do que o fracasso retumbante que se tornou nos cinemas.


O primeiro erro talvez tenha sido de timing. O livro de Edgar Rice Burroughs (autor, também, de Tarzan) é um dos mais cultuados romances de ficção científica, e ao longo dos tempos amargou o esquecimento enquanto o gênero se tornava tão popular na sétima arte. Depois de Avatar, a história do cowboy que vai parar magicamente no planeta Barsoon (ou Marte, como é conhecido pelos seres humanos) ficou ainda mais datada e desinteressante para o grande público. Como apenas efeitos especiais de ponta não salvam um filme hoje em dia, o lançamento numa data completamente equivocada (mês de março, onde geralmente ficam os filmes de baixa expectativa que não interessam à temporada de prêmios e tampouco para o lucrativo período do verão) foi definitivo para se criar um dos maiores micos da Disney em toda a história, ao menos nas bilheterias.

O outro erro de John Carter é o protagonista: Taylor Kitsch pode até ter malhado bastante para parecer mais fisicamente com personagem, mas como ator ainda precisa de muito whey protein para convencer. Escalado também para o blockbuster prometido pela Hasbro para este verão - a adaptação do jogo Batalha Naval, Battleship, a batalha dos mares - Kitsch está tão apagado que é difícil de acreditar que um diretor tão talentoso quanto Staunton tenha sido responsável por sua escolha para o papel.

Embora o restante do elenco não decepcione (Lynn Collins está belíssima no figurino da Princesa do planeta vermelho e Mark Strong novamente acerta como antagonista) e os efeitos especiais sejam realmente fantásticos, o filme acaba carecendo de carisma, o que não é tolerável vindo de um diretor cujo trabalho anterior foi o fascinante Wall-e. A impressão que fica é que Staunton apenas assumiu o filme e não teve qualquer poder de decisão dos rumos que a história ia tomar - e isso geralmente não tem um resultado bom.

O ritmo do filme, entretando, é bastante interessante, bem como a fotografia que aproveita de forma eficiente os impressionantes cenários do planeta vermelho gerados em computação gráfica. Os seres fantásticos de Barsoon também merecem destaque, bem como o belíssimo trabalho de dublagem de atores como Willen Dafoe e Thomas Haden Church.

É melancólico dizer que a primeira incursão de Andrew Staunton em um longa metragem live-action  não tenha sido um sucesso semelhante ao de seu colega de Pixar Brad Bird, que entregou o excelente Missão Impossível 4. Vamos ver se a volta às origens será mais feliz, já que ele está trabalhando na sequencia de Procurando Nemo. Com sorte, no futuro, teremos o talentoso diretor de volta a um filme de ficção, com a atenção que merece.

Cotação: ***

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