Crítica: Fúria de Titãs 2

Ray Harryhausen não deve estar nada satisfeito do rumo que uma das suas maiores criações para o cinema tomou na moderna época dos efeitos digitais milionários de Hollywood. O caldo começou a ser entornado em 2010, quando Fúria de Titãs, remake do clássico de stop-motion de 1981, chegou aos cinemas com pompa de blockbuster, trazendo o ator badalado do momento (Sam Worthington, que fez sucesso com Exterminador do futuro - a salvação e Avatar) como protagonista, grandes astros como coadjuvantes, cenários e figurinos exagerados e efeitos especiais grandiosos. No entanto, o roteiro estava jogado para escanteio.

Não fosse o 3D convertido horroroso que manchou sua reputação, Fúria de Titãs poderia ter se saído um pouco melhor (embora os ingressos caros da nova tecnologia tenham contribuído para a sua bilheteria mundial, que quase chegou ao meio bilhão de dólares). A obra de Harryhausen parecia ter ficado para trás na memória dos cinéfilos, pois não possuía o prestígio crítico, por exemplo, do King Kong de 1933. O sucesso do remake gerou a ideia cada vez mais comum de se criar uma franquia, abrindo caminho para uma continuação. Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, no original), ao menos, serve para mostrar que o cinema poderia muito bem ter se contentado em venerar o clássico original.


Tudo na continuação é maior que em seu antecessor: o clima épico, os grandes monstros criados em computação gráfica, os cenários imensos e o elenco inflado de figurantes para as cenas de batalha (que são cópias descaradas de outros filmes do gênero, mais precisamente de 300). Até mais protagonistas são apresentados. Mas tudo falha. E o motivo óbvio, é que o roteiro é de um nível tão baixo que faria até Ed Wood se sentir envergonhado.

No arremedo de história que é este Fúria de Titãs 2, Perseu (novamente interpretado pelo inexpressivo Sam Worthington) abdica de sua posição como semi-Deus para viver uma vida tranquila de pescador com a esposa e o filho. Depois da morte da amada, ele recebe visitas cada vez mais frequentes de Zeus, que tenta convencê-lo a tomar seu lugar junto aos Deuses e ajudar a aplacar a crise que se abate sobre o Olimpo, causada pela falta de orações por parte dos mortais. Quando Hades se une a um vingativo Ares para entregar Zeus para o Titã Cronos, ameaçando mergulhar o mundo na escuridão, ele terá de repensar sua posição na guerra e aliar-se ao filho de Poseidon e a Rainha Andrômeda para salvar o mundo.

A partir daí, tudo é desculpa para a aparição de diversos seres mitológicos incrivelmente perfeitos desenvolvidos por computação gráfica (as quimeras, ciclopes e o próprio Titã, Cronos, enchem os olhos do público), mas as motivações de heróis e vilões - e é em Hades, interpretado por Ralph Fiennes que se concentra o maior problema - não são bem trabalhadas, e a construção de diálogos risível só piora as coisas. Se não bastassem todos estes problemas, ainda existem personagens completamente dispensáveis, como o semi-deus Agenor, que recebe as feições do péssimo Toby Kebbell e se torna um alívio cômico irritante. Não fosse Bill Nighy como o bem humorado Deus caído Hefesto, as adições ao elenco seriam mais uma decepção completa.

O primeiro filme, mesmo com falhas, ainda possuía um pouco de estilo, graças ao diretor Louis Leterrier, fã confesso de Os Cavaleiros do Zodíaco, e que se inspirou no anime para criar parte do seu visual, algo que pode ser claramente notado nas armaduras usadas pelos deuses. Isto não ocorre com o seu substituto, o fraco Jonathan Liebesman, cujo trabalho mais conhecido é o surreal Invasão do mundo - batalha de Los Angeles. Liebsman limitou-se a elevar a décima potencia tudo o que, na teoria, teria funcionado no antecessor. Do saldo final, o diretor se salva apenas por entregar um 3D mais profissional, que fica ainda melhor se visto numa das telas gigantes do IMAX. O resto é dispensável.

Fúria de Titãs 2 é um blockbuster sem alma, daqueles que você vai esquecer alguns minutos depois de sair da sala escura. Seu único grande feito foi ter conseguido ser pior que o filme de 2010, o que para muitos parecia ser uma missão impossível. O jeito agora é rezar muito para os deuses do cinema, para que a franquia pare por aqui. Os produtores dessa bomba, sim, mereciam ficar a eternidade presos no Tártaro.

Cotação: *

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