Crítica: A Mulher de Preto

Daniel Radcliffe está passando por um momento complicado na carreira de ator, que já foi vivido por muitos outros colegas - alguns tiveram sucesso, outros fracassaram completamente. É a fase da desvinculação da imagem de um personagem muito representativo na cultura pop. De Guerra nas Estrelas, temos exemplos dos dois tipos: Mark Hammil nunca conseguiu deixar Luke Skywalker para trás, enquanto que Harrison Ford - que já tinha outros personagens memoráveis na sacola como Indiana Jones e Rick Deckard. Outros casos interessantes são dos homônimos Christopher Reeve e Christopher Lambert, que nunca deixaram de ser Superman e Highlander.

Mas o jovem ator parece estar administrando bem esta fase pós-Harry Potter. Como um dos jovens mais ricos da Grã-bretanha, se ele quisesse nem precisaria mais fazer sucesso para levar uma vida tranquila para sempre. Mas não é assim que o ego no show-business funciona. Alternando o Cinema com papéis de destaque nos palcos da Broadway (onde já atuou na polêmica Equus e no musical How to suceed in business without really trying), Radcliffe está conseguindo mostrar que por trás do menino bruxo existe um ator disposto a encarar desafios e se firmar. A mulher de preto é o mais novo capítulo desta história.



O filme do diretor James Watkins é uma típica história de espíritos atormentados que se tornou tão comum recentemente no Cinema (dentre os exemplos do estilo, podemos citar O chamado, O Grito, Água Negra, o espanhol O Albergue e o excelente Os outros). Talvez o maior diferencial do filme seja a ambientação, no interior de uma macabra cidade da Inglaterra Vitoriana. E, obviamente, o jovem ator Daniel Radcliffe, visivelmente envelhecido, vivendo um atormentado advogado que se envolve em uma trama sobrenatural ao investigar o passado de uma falecida cliente da empresa em que trabalha.

A mulher de preto tem bons sustos, embora se utilize de todos os clichês do gênero de suspense. Daniel Radcliffe carrega o filme praticamente nas costas, uma vez que em grande parte da projeção o ator está sozinho em cena. Não se trata de uma produção cara no ponto de vista dos inflados orçamentos Hollywoodianos, mas a bem cuidada representação da época acaba adicionando pontos importantes. Curiosa também é a escalação do maestro Marco Beltrami para cuidar da trilha do longa; talvez ele seja um dos mais ecléticos do ramo, tendo trabalhado com dramas, filmes de guerra, ficção científica entre outros, mas nunca com uma fita de terror. O resultado é excelente.

Outro ponto de destaque no filme é a presença de bons atores nos papéis coadjuvantes. Janet McTeer acaba sendo o maior destaque, principalmente se você assistiu Alfred Nobbs e tem a possibilidade de notar a grande transformação física e emocional que esta atriz consegue dar aos seus personagens. A Escocesa certamente irá dar muito o que falar nos próximos anos, agora que foi redescoberta pelo Cinema. O Irlandês Ciarán Hinds é outro que engrandece o elenco vivendo o único personagem claramente cético da trama, mas que será o maior aliado do protagonista para desvendar o mistério do casarão local.

Correndo por fora em uma temporada repleta de filmes com pretensões artísticas, A mulher de preto conseguiu se firmar e fazer uma boa bilheteria mundial - cerca de 120 milhões de dólares e ainda a estrear em alguns mercados importantes. Uma continuação já foi anunciada, mas falar mais sobre isso seria divulgar spoilers do final previsível do suspense. Agora é aguardar para saber qual será o próximo passo de Potter, quero dizer, Radcliffe, nos Cinemas.

Cotação: ***

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