Crítica: J. Edgar
É de impressionar a guinada na carreira que Leonardo Di Caprio conseguiu depois dos inúmeros trabalhos com Martin Scorcese. Além de ganhar o respeito da crítica e dos colegas de profissão, o ator soube como ninguém selecionar os trabalhos em que participa. Ou seja, é difícil vê-lo dando expediente em um filme ruim.
Saber que seu próximo trabalho era a biografia de uma personalidade icônica do governo americano e que seria dirigido pelo grande Clint Eastwood era uma injeção de ânimo para uma ida sem dúvidas ao cinema. Mas apesar de estar acima da média dos dramas históricos que vemos por aí, J. Edgar peca pelo ritmo arrastado e por ser artificial em demasia.
Mas a culpa não é necessariamente do velho Clint. O problema de J. Edgar começa no roteiro de Dustin Lance Black (que também trabalhou no script de Milk - a voz da igualdade). Dustin não acerta a mão na hora de relacionar a personalidade dura e reclusa de Hoover com sua homossexualidade, o que torna a referência ao assunto irrelevante e algumas vezes fora de contexto.
Apesar de começar de forma promissora, alternando sequencias que mostram o chefão do FBI já envelhecido e sua ascensão na carreira quando jovem, o filme não consegue prender a atenção nos momentos que poderiam ser considerados chave, como a luta pessoal que Hoover iniciou contra o movimento gângster no território americano. Fatos relevantes como a prisão de John Dillinger ficam em segundo plano frente ao relacionamento conflituoso com a mãe - que não aceitava sua opção sexual - e seu caso com Clyde Tolson (Armie Hammer, em uma interpretação contida e apenas eficiente). Alguns personagens são tão mal aproveitados que mal conseguem dizer a que vieram, como a secretária e improvável primeiro amor de Hoover, interpretada pela atriz Naomi Watts.
Mas a maior decepção com J. Edgar é constatar que mesmo monstros sagrados do cinema podem errar feio. O motivo que leva muitas pessoas a acharem o filme artificial não se dá apenas ao desenvolvimento falho da história, mas também ao irregular trabalho de maquiagem realizado para envelhecer os personagens. Quem sofre mais é exatamente Di Caprio, pela exposição e tempo de tela do protagonista. As primeiras aparições do ator como Hoover envelhecido já mostram que houve um problema sério na composição daquele personagem, uma vez que Di Caprio não trabalha a dicção e, parece, vemos um jovem falando no corpo de um velho. Mas o erro não foi apenas na direção do trabalho do ator: quando Naomi Watts e Armie Hammer surgem em suas versões idosas, o caldo entorna e fica claro que os responsáveis pela maquiagem exageraram na dose.
Com todos estes problemas, J. Edgar acabou enfraquecendo suas chances no Oscar, ao ponto de não conseguir sequer a indicação tão esperada de melhor ator para Leonardo Di Caprio. Isto acaba servindo de lição para aqueles que iniciam muito prematuramente campanhas à favor deste ou daquele filme quando os mesmos ainda estão em produção, sem sequer tê-los visto. Não importa o tema ou quem está por trás das câmeras: um filme deve ser julgado pelo que é, e não pelo que aparenta.
Cotação: **
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