Crítica: Histórias Cruzadas

Nem sempre o resultado das bilheterias segue um padrão na milionária indústria de cinema dos EUA. Em um verão lotado de filmes de super-heróis, robôs gigantes e piratas amalucados, um despretensioso drama adaptado de um romance de sucesso tomou de assalto as salas de cinema, tendo um sucesso de público impressionante e se tornando um queridinho da crítica especializada.

Histórias Cruzadas tinha tudo para ser mais um destes filmes de sessão da tarde. Com uma trama simples que discorria sobre situações de racismo ocorridas em uma cidade do estado do Mississipi envolvendo patroas e empregadas (e baseado em histórias reais), o filme seguia padrões e não tinha grandes evoluções na narrativa. Mas o seu grande trunfo era o time de atrizes que compõem seu elenco.

Viola Davis, Octavia Spencer, Jessica Chastain, Bryce Dallas Howard e Emma Stone que o digam. As atrizes transformam a experiência de se assistir Histórias Cruzadas em algo extraordinário.


Não que o filme no geral seja dispensável: trata-se de um trabalho despretensioso do ator e diretor Tate Taylor - que tem em seu curriculum apenas mais um longa, o pouco visto Pretty Ugly People, de 2008 - e que conseguiu alçar voo graças ao boca a boca positivo e manteve-se no top 10 das bilheterias americanas por um longo período, arrecadando impressionantes 169 milhões de dólares apenas nos EUA (valor altíssimo considerando seu custo de US$ 25 milhões). O sucesso da obra literária em que é baseado pode explicar parte de todo este sucesso.

O livro A resposta (título no Brasil), trabalho de estréia da escritora Kathryn Stockett, ficou mais de 80 semanas na lista dos melhores do New York Times e vendeu mais de 5 milhões de exemplares em todo o mundo. Baseado em experiências da própria autora em sua juventude no condado de Jackson, o livro centrava-se nas experiências de Aibileen e Minny, duas domésticas que dedicaram as vidas a cuidar de crianças brancas como se fossem seus próprios filhos, e que sofriam com a descriminação em uma comunidade que, por trás de bons costumes e hábitos generosos, praticava diariamente com a maior naturalidade um dos crimes mais hediondos concebidos pela humanidade.

Para viver as amigas Aibileen e Minny, o diretor Tate Taylor contou com as talentosas Viola Davis e Octavia Spencer. A primeira já havia surpreendido o mundo com as poucas cenas que teve em Dúvida - filme que lhe deu sua primeira indicação ao Oscar. A segunda, uma veterana que já realizou diversos trabalhos no cinema e na TV, mas sem nunca conseguir chamar tanta atenção quanto o da voluntariosa e, por que não, engraçadíssima Minny. Em meio ao clima pesado do filme, são de Octavia as cenas mais leves e os bons momentos de humor da trama. Já Viola é o centro dramático da história, e tem ao menos um momento marcante em sua interpretação, quando reage aos constantes desacatos de que é vítima e deixa a casa da família com quem trabalhava para sempre - aos berros e choro da pequena menina que considerava a empregada sua verdadeira mãe.

As estrelas de maior grandeza do filme, Emma Stone e Jessica Chastain, também estão soberbas em seus personagens, mas é Chastain que mais chama atenção com sua doce Celia Foote. Indicada ao Oscar de coadjuvante pelo papel, o prêmio seria uma belíssima coroação para um ano extraordinário para atriz - que também impressionou como a mãe submissa de A árvore da vida. Surpreendentemente, a melhor atriz em cena, Bryce Dallas Howard, não foi indicada ao prêmio da academia. Talvez a natureza cruel de sua personagem - a grande vilã do filme - não tenha ajudado na hora da decisão dos votantes.

Histórias cruzadas chega ao Oscar 2012 na condição de semi-favorito, já que seu roteiro e direção ficaram de fora da festa. Saindo vitorioso ou não, o que fica é sua bela mensagem de tolerância para um mundo onde cada vez menos se valoriza a igualdade entre os seres humanos, seja a respeito da cor da pele, da classe social, da formação acadêmica ou do que quer que seja. Se o filme te tocar mais intensamente, vale uma reflexão: quem sabe você não comete este pecado na sua vida, mesmo sem perceber?

Cotação: ***

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