Crítica: A Dama de Ferro

Margaret Thatcher é uma das personalidades mais marcantes da história recente. A controversa ex-Primeira Dama foi a primeira mulher a se tornar chefe de estado de uma das maiores economias mundiais, e pregou com força os ideais neoliberais em uma Inglaterra que sofria com uma crise que parecia interminável, e, pode-se dizer, foi por muito tempo a mulher mais poderosa do planeta. Uma personagem deste calibre merecia ser retratada com a devida grandeza no cinema.

Quando foi anunciado alguns anos atrás que a história de Thatcher seria levada às telas por alguns dos produtores do grande sucesso A Rainha, e que seria nomeada A dama de ferro (apelido pelo qual ela ficou conhecida mundialmente e refletia sua postura à frente do governo inglês), a expectativa foi às alturas. Uma pena que a escolha do enredo do filme não faça jus ao seu título e que o roteiro não decida claramente o caminho que deveria trilhar: A dama de ferro acaba por tornar-se um filme apenas regular que deixa claro pela impressionante atuação de Maryl Streep que poderia ter sido muito melhor.


A diretora Phyllida Lloyd talvez fosse muito inexperiente para um filme deste porte. Seu único trabalho anterior com longas metragens foi o bem sucedido Mamma Mia - que também contava com Maryl Streep no elenco. Vê-se logo nas primeiras cenas que a ousadia não faz parte dos ingredientes de A dama de ferro: na tentativa de humanizar um pouco a figura da ex-primeira dama, resolve-se contar a história do filme sob o ponto de vista de uma frágil Margaret que, idosa, sofre com o princípio de esclerose e sente-se impotente frente aos exagerados cuidados da filha.

Este retrato da personagem diverge completamente do que é amplamente divulgado sobre ela nos livros de história. Em seu governo, Thatcher escolheu priorizar as expectativas da classe empresarial, e enfrentou com mão de ferro uma greve geral sem se preocupar com suas consequências para as camadas mais pobres da sociedade Britânica. Defendia a desregulamentação do setor financeiro e era abertamente contrária ao movimento sindical, que considerava um entrave para o desenvolvimento da economia. Levou seu país a uma guerra contra a Argentina para legitimar a posse das ilhas Malvinas, saindo vitoriosa e reeleita para um segundo mandado. Escapou de um atentado contra sua vida em 1984 e criticou abertamente o regime socialista da União Soviética. Todos estes feitos legitimaram sua posição como uma mulher forte e de conceitos morais rígidos. O filme peca por fazer desta parte importante de sua história apenas um registro de flashbacks, sem desenvolver de forma contundente nenhum dos temas.

Se o roteiro e a direção falham, não se pode dizer o mesmo da atuação dos dois principais atores em cena, Maryl Streep e Jim Broadbent. Streep, que passou por um trabalho impressionante de maquiagem para dar vida à ex-primeira ministra, toma conta de cada cena em que aparece. Sua atuação impressiona pois ela replica trejeitos e a impostação de voz de Thatcher, e ficou tão parecida com sua personagem que chocou até alguns membros de sua família. Há espaço para Jim Broadbent brilhar como Denis Thatcher - seja nas sequencias em que acompanha a esposa na sua carreira política, seja nas que faz parte de seus delírios. O único problema do personagem do autor é pertencer quase que completamente à linha narrativa mais fraca do longa metragem.

A dama de ferro tem méritos por retratar, mesmo que de maneira falha, um período histórico importante no mundo ocidental e que foi determinante para diversos aspectos da atual organização social e econômica mundial. Ter a dama do cinema à frente de um grande personagem é sempre um motivo para vivas. Vamos ver se uma certa estatueta dourada vai driblar as deficiências do filme e ir parar nas mãos de uma atriz que, mais do que nunca, está merecendo-a demais.

Cotação: **

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