Crítica: Sherlock Holmes - o jogo das sombras

Para quem estava tão preocupado por não ter uma outra grande franquia nas mãos com o fim deHarry Potter, a Warner não devia realmente levar muita fé na continuação do sucesso da visão modernosa de Guy Richie para o detetive inglês Sherlock Holmes. O primeiro filme, de 2009, fez sucesso nos EUA (arrecadando mais de 200 milhões) e no caixa final no mundo atingiu quase quatro vezes o seu custo, um mérito inquestionável para um diretor que estava acostumado com filmes menores, porém muito mais autorais.

Dois anos depois, a franquia do detetive vai muito bem, obrigado. Já chegando próximo do meio bilhão de dólares em todo mundo, Sherlock Holmes - o jogo das sombras está consolidando o personagem nas telonas, e muito (mesmo!) graças ao talento e a química entre os dois protagonistas, Robert Downey Jr. e Jude Law.


O engraçado deste novo filme são os pequenos detalhes que acabarão sendo percebidos por uma fatia pequena do público. Sem precisar apresentar o personagem - cuja interpretação de Robert Downey Jr. permanece sensacional -, Richie pôde, enfim, se aprofundar mais em sua vasta mitologia e torná-lo mais reconhecível para quem é fã e realmente o conhece. Um ponto importantíssimo para isso são os novos personagens, Mycroft, o irmão do detetive (vivido por um engraçadíssimo Stephen Fry), e o Professor Moriarty, o grande vilão nos contos de Arthur Conan Doyle, interpretado com um vigor impressionante por Jared Harris. O roteiro é adaptado do conto The final problem, incluíndo seu controverso final, que rendeu uma cena hilária nas mãos de Downey Jr.

Guy Richie não se preocupou mais em imprimir um estilo próprio para o longa, fazendo apenas repetir o que havia dado certo no anterior, mas tudo muito mais exagerado. O talento dedutivo de Holmes e sua capacidade quase "sobre-humana" de antecipar os movimentos de seus oponentes numa briga tomam dimensões maiores aqui, e acabam se tornando repetitivos. Em alguns momentos, fica a impressão de que o filme foi dirigido por Zach Snyder (afinal, quem em Hollywood gosta tanto de câmera lenta?). O excesso de cenas de ação ininterrupta acaba tornando o filme cansativo em alguns momentos, mas a presença da dupla principal na tela acaba sempre salvando a pele do diretor.

Tecnicamente, estamos diante de mais um trabalho impecável de produção, no geral. A Londres Vitoriana continua perfeita na junção da computação gráfica com o chroma key, e é recriada com detalhes em plena época em que viveu a explosão do início da construção de seu sistema metroviário. Holmes e Watson não se limitam mais apenas à capital britânica, e também fazem suas estripulias em Paris e no interior da Suiça. A trilha sonora novamente é um show à parte, mas apenas segue os arranjos e acordes já conhecidos do público, imprimindo um ritmo mais agitado nas sequências mais arrojadas.

Talvez uma das sacadas mais espertas do roteiro, além do fato de seguir mais fielmente os escritos originais do criador do personagem, é dar espaço para a relação quase simbiótica entre Holmes e Moriarty. O antagonista, que surgiu pela primeira vez 1893, talvez seja o primeiro grande vilão de um personagem de ficção a inspirar este filão do mocinho vs herói tão comum na cultura pop hoje em dia. Provavelmente, não fosse Conan Doyle ter criado Moriarty, tipos como o Coringa, Lex Luthor, Duende Verde, Loki e Caveira Vermelha, dentre outros, tivessem tanta relevância nas histórias de seus respectivos nêmesis. O filme presenteia o expectador com uma sequencia de embate entre os personagens que é magnífica de se ver, e seu desfecho vai deixar todo mundo de boca aberta, assim como aqueles que conhecem o conto que a originou (as locações nas Cataratas de Reichenbach, perto de Bern, na Suíça, são um espetáculo à parte).

Sherlock Holmes - o jogo das sombras é o primeiro blockbuster a chegar nas telas brasileiras neste ano de 2012, que promete muitas surpresas para os cinéfilos. Mesmo que não seja um filme daqueles que grudam na cabeça, tem seu valor por levar a franquia do detetive a um caminho muito mais agradável para todos, fãs iniciados ou não do personagem. Agora, Sir Conan Doyle deve estar um pouquinho mais feliz. Resta esperar que Guy Richie segure a mão nos excessos e que, na (inevitável!) terceira aventura, puxe um pouco o freio de mão e deixe a platéia respirar um pouco.

Cotação: ***

Comentários

  1. Muito bom, irmão. Como sempre! Não posso dar muita opinião pq não vi o filme AINDA mas... pra quê respirar com R.D.J nas telas? rsrs.
    Que o clássico Moriarty (dane-se ele) se renda às duas coisas que mais aprecio na vida (perfeitamente conjugadas): a lógica imbatível e inteligente do personagem e o talento e sensualidade ímpar de Downey Junior.Nenhuma combinação é melhor que essa!(PQP, que espetáculo!)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Crítica: O Lorax - Em busca da Trúfula perdida

Crítica: Guardiões da Galáxia Vol. 3

Crítica: Os Pinguins de Madagascar