Crítica: Os descendentes

Alexander Payne é o típico diretor que gosta de contar histórias simples que são protagonizadas por grandes personagens. Em Eleição, a jovem idealista que lutava contra o arrogante professor nas plenárias de uma eleição escolar; em As confissões de Schmidt, o homem que queria vencer a indiferença da filha em se casar com um cara que, na teoria, não servia para ela; e em Sideways, na jornada de dois homens pelas vinícolas da Califórnia na véspera do casamento de um deles, em que são postos em cheque conflitos pessoais e dilemas existenciais.

Era de se supor que em seu novo trabalho o diretor mantivesse esta excelência, mas o que se vê em Os descendentes não é nada mais que uma palanque para promoção de George Clooney, em um personagem feito sob medida para emocionar os votantes da Academia e faturar um certo careca dourado.


Os descendentes segue uma fórmula típica de drama familiar com toques de comédia que tem se mostrado tão eficiente nos últimos anos no que diz respeito aos prêmios da crítica. George Clooney vive Matt King, um dos herdeiros de uma grande fortuna em propriedades no paradisíaco estado do Havaí, que precisa se desdobrar entre as negociações de um contrato milionário que envolve as terras da família, e a necessidade de cuidar das duas filhas após o acidente que deixou sua esposa em coma profundo e à beira da morte. A notícia inesperada da traição da esposa vai mexer ainda mais com a rotina da família, e alterar de forma permanente a forma de Matt enxergar a realidade à sua volta.

O filme tem um início promissor, em que uma narração em off do protagonista situa o espectador da localização inusitada dos eventos da trama - com o ula-ula se destacando ao fundo. A partir daí, seguem-se obviedades e mais obviedades no roteiro quadradinho, mas simplista demais. O erro principal do script é não desenvolver de maneira adequada algumas das premissas principais da história - em que se nota uma falha clara de adaptação do romance original - e os personagens coadjuvantes. Fica quase impossível de acreditar que se trata de um trabalho de Alexander Payne.

É muito complicado quando a melhor coisa de um filme está expressa em sua trilha sonora e em seu conjunto de locações. Se a história de Os descendentes se passasse em uma das muitas metrópoles urbanas do mundo e fosse embalada por qualquer ritmo musical usual, o filme seria praticamente esquecível com cinco minutos fora da sala de projeção. Para um dos dramas aclamados como melhores do ano, é uma baita decepção.

Ao menos em um ponto o filme se faz vitorioso: em sua divulgação, é destacada a questão de que se trata da 'melhor atuação da carreira de George Clooney'. Verdade seja dita, o ator está realmente bem, e tem duas cenas mais focadas no melodrama em que consegue fazer a platéia soltar algumas lágrimas. Mas considerando a limitação de seus outros trabalhos, nem é um mérito tão grande assim, e nem de longe pode ser enquadrada como uma das melhores do ano. Prefiro manter minha máxima básica sobre Clooney: gosto muito de vê-lo por trás das câmeras, onde já provou que realmente tem talento. O fato de sua atuação ser quase uma barbada para a vitória na categoria de melhor ator no Oscar é a prova máxima de que a Academia vive mais de lobby do que efetivamente de merecimento.

Em termos gerais, Os descendentes é um bom filme sobre uma família problemática, como tantos outros que temos por aí. Alexander Payne tem talento para projetos mais audaciosos, e com mais personalidade. Entre umas e outras, pode-se até errar. Feio vai ser se seguir no erro.

Cotação: **

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