Crítica: Missão Impossível - Protocolo Fantasma
A série de TV Missão Impossível marcou época quando foi originalmente exibida, entre as décadas de 60 e 70 nos Estados Unidos. Quando Tom Cruise resolveu levar a história para a tela grande, a desconfiança foi geral, mas a franquia acabou ganhando um vida interessante no Cinema, nas mãos de grandes diretores como Brian De Palma, John Woo e J. J. Abrams. O terceiro capítulo, dirigido pelo visionário criador da série fenômeno Lost, mesmo sendo o melhor até ali, acabou sofrendo as consequências da crise de popularidade do astro protagonista (que, pouco tempo antes, havia pagado mico na TV americana ao declarar publicamente seu amor para a então nova esposa Kate Holmes), e não fez o sucesso esperado. Coube ao próprio Cruise procurar Abrams e sua produtora, a Bad Robot, para reviver a história da equipe de Ethan Hunt.
Que bom que eles resolveram voltar ao jogo! Não apenas realizaram o melhor filme da série até aqui, como conseguiram redefinir os rumos da utilização da tecnologia IMAX no Cinema. Missão Impossível: protocolo fantasma foi feito sobre medida para se ver nas telas imensas que utilizam esta ferramenta que, muito mais que o 3D, redefine com louvor a maneira de se assistir filmes.
Méritos dos produtores à parte, não podemos esquecer que o filme é essência do diretor que está por trás das câmeras. E Tom Cruise não poderia ter escolhido alguém melhor: Brad Bird, um dos magos por trás do sucesso da Pixar, e diretor das grandes animações O gigante de ferro, Os incríveis e Ratatouille. Oscarizado pelos seus dois últimos trabalhos na produtora, Brad Bird traz sua genialidade para os filmes live-action e acerta em todos os pontos: Missão Impossível: protocolo fantasma já é diferente em sua apresentação, uma sequência eletrizante de imagens que acompanham um pavio prestes à explodir, que ilustra algumas das imagens de passagens importantes do longa - um aperitivo e tanto para o que está por vir. Para melhorar, chamou seu amigo de longa data, o maestro também oscarizado Michael Giacchino, para compor a trilha sonora que é um deleite à parte para qualquer cinéfilo: as cenas no Kremlin com as canções em um coral Russo ao fundo chegam a dar vontade de chorar.
Tamanha preocupação com a estrutura geral da película não poderia deixar de se refletir no roteiro. Bem amarrado, o script é, sem dúvida, o melhor da série. Utiliza de maneira adequada os personagens, dando chance a todos de brilhar (exclua aqui a participação melancólica de Josh Holloway, o Sawyer de Lost). Mesmo que no geral o filme fique um pouco longe da atmosfera geral da série (que era mais focada na espionagem do que efetivamente na ação, algo que no Cinema só se viu no primeiro filme dirigido por Brian De Palma), o saldo final é por demais positivo.
Deve-se tirar o chapéu para o cinquentão Tom Cruise. Se hoje ele já não é o super-astro do passado, que garantia cifras absurdas para qualquer filme que participasse, ele mantém-se sendo um excelente astro de filmes de ação, o que é muito para quem sabe que o ator gosta de realizar - ele próprio - a maioria das sequências em que seu personagem participa, sejam elas as mais ou menos perigosas. Brad Bird não pegou leve para ele, e criou algumas das mais vertiginosas passagens a serem vistas no cinema de ação - e, aqui, vale dizer que, se você não assistir em IMAX, perderá parte das sensações alucinantes que o diretor e sua equipe prepararam para a galerinha que está na poltrona. Se Missão Impossível: protocolo fantasma tem um defeito, é que se você tiver propensão à vertigens ou labiritinte, a diversão durará até a metade da fita, onde estão as mais impressionantes cenas, filmadas em Dubai, nos Emirados Árabes, no topo de um dos maiores edifícios do mundo.
A opção por não realizar o filme em 3D foi acertada: nem de longe Missão Impossível: protocolo fantasma precisa das imagens tridimensionais para impressionar. A riqueza de suas imagens é tão embasbacante - aliás, ser diretor de fotografia em um filme que se passa por Budapeste, Dubai, Bombaim, entre outras, deve ser muito fácil - que fica difícil tirar os olhos da tela. Para completar, a montagem frenética segue o estilo do último longa, e é tão bem sucedida quanto a anterior.
Melhor surpresa para o fim do ano, não poderia haver. Separe um dinheirinho para assistir ao filme na tela gigante, ou, se mora longe de uma, faça um esforço para tentar uma chegada rápida. A indústria do entretenimento está realmente revolucionando nossa capacidade sensorial, e isso é uma coisa que você só vai conseguir sentir por completo dentro da sala escura. É Hollywood mostrando que o Cinema ainda terá, sim, longa vida.
Cotação: ****
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