Critica: Gigantes de Aço
Só quem um dia praticou, amador ou profissionalmente, consegue entender o quão magistral é este esporte chamado boxe. E Hollywood, não é de hoje, tem uma paixão declarada pelos heróis dos ringues, já demonstrada em sucessos diversos como Rock, um lutador, Touro Indomável, A luta pela esperança e o recente O vencedor. Mas ainda não se havia visto no cinemão ianque nada parecido com o que é este Gigantes de aço.
Parece que Steven Spielberg gostou de robôs gigantes, depois de produzir a bem sucedida trilogia Transformers. Mas se os filmes de Michael Bay tinham como problema os roteiros capengas, isso não acontece aqui: os robôs são menores, tão determinados quanto, e estão acompanhados de um elenco verdadeiramente cativante, encabeçado pelo astro Hugh Jackman. Não é por menos dizer que Gigantes de aço seja a maior surpresa da temporada de blockbusters de 2011.
E quem diria que um diretor acostumado a realizar comédias pastelão seria capaz de entregar um filme de ação e aventura tão contundente, principalmente depois de ser responsável por uma das maiores bombas do cinema recente (o "hilário" Uma noite fora de série, veículo para Tina Fey despontar nas telas grandes que acabou saindo pela culatra): Shawn Levy tem seu melhor trabalho nesta história comovente sobre um homem que redescobre a si mesmo ao embarcar com coragem no sonho do filho que uma vez havia abandonado.
Boxe é emoção, isso não gera dúvidas. Gigantes de aço parte da premissa de que o esporte havia sido proibido para seres humanos devido ao caminho para uma violência extrema (não estamos vendo isso hoje com o MMA?) e passa a ser praticado por robôs de elevada tecnologia. Neste quadro está o personagem de Jackman, Charlie Kenton, um ex-pugilista obrigado a se aposentar devido ao fim do esporte como ele conhecia e que sobrevive graças a lutas amadoras com robôs que ele próprio monta com peças de ferro velho, auxiliado por Bailey (a gatíssima Evangeline Lily, de Lost). Quanto Kenton precisa confrontar a morte da ex-esposa e reencontrar o filho que não vê desde bebê (Dakota Goyo, em uma interpretação digna de gente grande), sua vida sofre uma reviravolta que o levará a seguir o sonho do filho e desafiar o maior campeão do Real Steel, o mais importante campeonato de robôs boxeadores, com o robô Atom, encontrado por eles em um ferro velho.
A maior estrela de Gigantes de aço, por sinal, não é Hugh Jackman, e sim a impressionante criação digital que é Atom. As fronteiras da tecnologia no cinema já alcançam dimensões impressionantes, mas assistir à jornada desta máquina - tão semelhante e emocionante quanto a do personagem clássico de Sylvester Stallone, Rock Balboa - é a prova que o cinema é mais que uma indústria milionária, mas sim uma verdadeira fábrica de sonhos, onde tudo - mesmo! - que imaginamos pode ser tornar real. Os robôs de Gigantes de aço se movimentam de maneira precisa, tal qual o mais talentoso dos boxeadores, e em nenhum momento do filme você pensa estar realmente não acompanhando uma boa luta de boxe.
Emoção é a palavra chave do filme, que não aposta simplesmente no melodrama e desenvolve seus personagens com perícia, criando cenário para uma cinessérie promissora - e desde já muito esperada. Mocinhos, anti-heróis e vilões tem a chance de mostrar as caras e convencerem o público - criando o canal de identificação com a história tão necessário para deslanchar um script focado claramente nos personagens. Gigantes de aço aborda questões como senso de responsabilidade e determinação com sensibilidade, e a platéia tem a oportunidade de acompanhar uma dinâmica entre pai e filho daquelas que ficam guardadas na memória, graças ao grande talento dos dois atores. Nunca se sabe quem é o pai e quem é o filho nos embates entre Charlie e Max - o que rende os melhores momentos do filme.
Para completar a mistura de sucesso, Evangeline Lily sai diretamente do Hawai e ganha sua primeira chance real depois de Lost. Apesar do pouco tempo de tela de sua personagem, a atriz mantém o carisma que fez de Kate um dos destaques da série dos perdidos, e desfila sua beleza fenomenal para fazer os marmanjos babarem. A possibilidade do filme se tornar uma franquia credencia a atriz a um retorno nas próximas aventuras, quem sabe contando um pouco mais da história de sua aparentemente sofrida personagem.
Gigantes de aço fecha com louvor o ciclo de grandes filmes de 2011, abrindo a porteira para as pequenas produções que começarão a chegar aos cinemas visando a tão cobiçada estatueta do Oscar. Atom pode até não lutar por este título, mas já fez sua parte ao emocionar o público com sua história de superação da maneira que só um bom drama de boxe consegue fazer. Mistura melhor não poderia haver para deixar os cinéfilos que amam este esporte felizes e orgulhosos.
Cotação: ****
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