Crítica: Tudo pelo poder
George Clooney não é um ator extremamente competente, ao menos na opinião deste que vos fala. Inexpressivo e canastrão demais, seu sucesso é justificado mais pela fama de bom moço que necessariamente pelo talento. Mas quando entra em jogo a sua outra faceta - a de diretor - a história fica bem diferente.
Para falar da carreira de Clooney como diretor, só precisamos destacar dois títulos: Confissões de uma mente perigosa e Boa noite e boa sorte. Ambos os filmes eram semi-biografias de personagens reais em algum ponto polêmicos, cuja transposição para as telas foi realizada com extrema competência e regularidade. Em sua nova incursão por trás das câmeras, ele preferiu novamente mexer com polêmicas, mas desta vez disfarçando os fatos através de personagens fictícios. Tudo pelo poder (The ides of march, no original, previsto para estréia por aqui no final de dezembro) é um retrato poderoso do diretor sobre os esquemas que ocorrem nas prévias das candidaturas ao cargo mais importante do mundo: o de presidente dos Estados Unidos da América.
O tema por si só é chamativo, mas Tudo pelo poder sofre com o revés de ser um pouco específico demais para o público americano. Obviamente George Clooney sabia disso, e mesmo tendo pretensões mais artísticas do que comerciais para o filme (que está sendo lançado em pleno burburinho da temporada pré-Oscar), tratou de selecionar um elenco competente e com atores consagrados para chamar a atenção das audiências do redor do globo. Basta dizer que, além dele próprio, estão no filme os veteranos Phillip Seymour Hoffman e Paul Giamatti, além do excelente Ryan Gosling no papel principal, e Evan Rachel Wood em um papel pequeno, mas importante no decorrer da narrativa.
Ryan Gosling, por sinal, está vivendo um momento importante da carreira. Não que ele precise provar seu imenso talento, já escancarado em filmes como Half Nelson, A garota ideal e Namorados para sempre. Mas 2011 foi a chance do ator estar presente em filmes mais comerciais, como Drive e o romance Amor à toda prova, o que é sempre bom para se fazer mais conhecido pelo grande público. Em Tudo pelo poder, ele toma conta da tela como o assessor de campanha do governador americano que é candidato às primárias democratas da eleição presidencial. Como o jovem Stephen Meyers, cujo idealismo e a admiração sem limites por seu candidato sofrem uma dura prova por conta dos blefes, mentiras, jogos de poder, negociações e segredos de alcova, Ryan Gosling tem uma atuação sensacional, contida e ao mesmo tempo intensa em algumas cenas, a medida que seu mundo pretensamente perfeito começa a desmoronar à sua volta. O próprio ator minimizou em algumas entrevistas a questão de denúncia ao sistema político inerente na trama: "é um thriller que se desenvolve no campo política, mas acredito que (a história) poderia acontecer em Wall Street ou em Hollywood". Pouco importa. Mais impressionante é acompanhar a desenvoltura do ator, que não se intimida mesmo trabalhando ao lado de monstros sagrados e ganhadores do Oscar.
O forte de Tudo pelo poder, além do elenco sensacional, é seu roteiro. Conciso e repleto de reviravoltas, o script prende a atenção do público, apesar de em alguns momentos em que a narrativa fica mais dependente dos diálogos com fundo político - o que para os não familiarizados com as regras complicadas das eleições americanas pode causar um maior estranhamento. Este fato é contornado pelo elegante esquema de montagem do filme, desde já um dos favoritos a esta categoria técnica no Oscar (o montador Stephen Mirrione é figura tarimbada em Hollywood, tendo trabalhado em sucessos como 21 gramas, Babel, Biutiful, Contágio e também com Clooney em Confissões de uma mente perigosa).
No Brasil, teremos a chance de assistir ao filme na temporada de grandes lançamentos que visam o Oscar 2012, a ser realizado ano que vem em fevereiro. Com a elevação dos indicados na categoria de melhor filme para ate 10 concorrentes, é muito provável que vejamos Tudo pelo poder na listagem final. Resta torcer para que, como ator, George Clooney comece a ter a mesma qualidade que tem como diretor. É difícil, mas não custa sonhar.
Cotação: ***
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