Crítica: O Homem do futuro

Tem gente no Brasil que acredita que cinema em nosso país pode ser mais do que seguir a cartilha "pobreza para gringo ver" ditada por cineastas como os da família Barreto, para citar um exemplo. Por graça divina, existe a Conspiração Filmes e caras como Cláudio Torres, que fazem filmes que exploram gêneros que são quase uma raridade na produção nacional. Quem não se lembra do realismo fantástico de Redentor ou da comédia pop que é A mulher invisível?

A mais nova cartada desta turma teve que aproveitar a atual mania nacional: Wagner Moura. Este elogio vem com um certo tom de crítica: os filmes feitos no Brasil se apegam demais ao ator da moda. Já foi Matheus Nachtergaele. Passou um tempo sendo Selton Mello. E agora é a vez do Baiano. Não que o cara não mereça, longe disso. Tudo bem que todos os citados são excelentes, mas... não temos outros atores em atividade no país? Chamariz de público, é o que é. E está dando muito certo para O Homem do futuro.


O principal problema dos filmes anteriores de Cláudio Torres era o roteiro. Embora todos tivessem argumentos interessantes, as histórias ainda eram bobinhas demais, e parecia que tudo era desculpa para mostrar que nosso cinema era capaz de produzir bons efeitos especiais. Mas tudo leva a crer que isso é passado. Apesar de os efeitos especiais da viagem no tempo terem sido a principal ferramenta de divulgação de O Homem do futuro (além do protagonista, claro!), desta vez temos um filme que realmente se desenvolve com ritmo e faz inveja a muita super produção por aí no resultado final.

Os acertos do filme refletem a atual boa fase da estrutura montada para a produção cinematográfica no Brasil. Totalmente rodado no Pólo Cinematográfico de Paulínia, no interior do estado de São Paulo, O Homem do futuro se aproveitou no melhor sentido da palavra dos recursos disponibilizados por lá. Não é mais desculpa para filmes medianos a falta de profissionais qualificados: não falta gente talentosa produzindo hoje no Brasil. O que falta é largar de vez as comédias idiotas, os dramas insossos passados no sertão e os filmes infantis lotados de pagodeiros e apresentadores de TV. O Brasil está crescendo, e o cinema feito por aqui já demonstrou que também é capaz de seguir este caminho.

Falando mais do filme em si, trata-se de uma junção interessante de ficção científica com comédia romântica, lotado de referências aos clássicos que também falavam do tema "viagem no tempo" (as mais claras são as homenagens a De volta para o futuro). Pode-se dizer que Cláudio Torres aproveitou todas as teorias doidas já visitadas pelo cinema ianque nos filmes de ficção científica e conferiu uma outra abordagem, digamos, um pouco mais pé no chão. As piadas funcionam, e a produção como um todo tem a maior cara de filme Hollywoodiano, inclusive os efeitos especiais, que estão excelentes.

Claro que a presença de Wagner Moura ajuda muito. Aqui, o ator tem a chance de mostrar a sua versalidade interpretando ao menos três personagens completamente distintos. E, em todas as facetas, está excelente. Como a Globo Filmes é um dos nomes por trás da produção - infelizmente ainda temos esta pedra no caminho do bom cinema no país -, é óbvio que a presença de astros globais é uma realidade. Mas Gabriel Braga Nunes não estraga o filme, pois aparece muito pouco, e Aline Morais cumpre bem seu papel como o interesse amoroso do protagonista.

Outra coisa interessante em O Homem do futuro é o seu lado nostalgia, revivendo o início dos anos 90. Menos datada do que a década de 80, os últimos dez anos do antigo milênio foram também marcantes para a juventude da época (por sinal, a minha geração), em diversos aspectos da cultura pop. A trilha sonora do filme parece ter sido escolhida à dedo, e é um atrativo à parte para o filme, e ajuda a maturar a onda atual de reviver os sucessos do grupo Legião Urbana (Eduardo e Monica virou campanha de marketing de uma operadora de celular e Faroeste Caboclo está no forno para virar um longa metragem).

Esta poderia ser a última chance dada ao cinema nacional este ano, ao menos para o cara que escreve este texto. Verdade seja dita: é bom demais quando você é pego de surpresa, ainda mais se a surpresa é um bom filme feito em casa. Wagner Moura pode até não cantar Johnnie Be Good, mas agora além de Capitão Nascimento ele é nosso Marty McFly. E tomara que ele pegue seu DeLorean e leve o cinema nacional de encontro ao seu verdadeiro futuro: o de entretenimento inteligente e de qualidade.

Cotação: ***

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