Critica: O Ursinho Pooh
A tradição dos estúdios Disney sempre foi da animação artesanal, aquela de papel e lápis, palhetas de cores naturais e visual pouco arrojado. Foi apenas na década de 90, com os desenhos da retomada da produção do estúdio que os efeitos especiais foram inseridos na mistura, e criaram cenas antológicas como a valsa de A Bela e a Fera; a debandada de O Rei Leão; a multidão que circulava a Catedral de O Corcunda de Notre Dame, entre outras. Depois disso, para a animação digital foi um pulo.
É claro que o estúdio do Mickey não poderia deixar de revisitar seu estilo mais clássico pelo menos algumas vezes nos cinemas. E se A Princesa e o sapo foi um flerte com as animações tradicionais mais elaboradas, O Ursinho Pooh traz de volta o lirismo de obras mais ingênuas como Bambi ou O cão e a raposa.
Impossível existir alguém que não conheça os clássicos personagens de A.A. Milne, moradores do fictício Bosque dos Cem Acres. Pooh, Ió, Tigrão, Leitão, Abel, Guru, Can, Corujão e Christopher Robin fazem parte do imaginário de pelo menos três gerações, e este é mais um motivo de se festejar a chegada do filme aos cinemas, concebido da maneira como deveria ser. Algumas sequências iniciais, no entanto, mostravam um quarto de criança real, mas é só uma introdução: a aventura acontece com os personagens em seu habitat natural.
O roteiro explora mais um dia comum no bosque, para variar, com Pooh acordando faminto e procurando por mel. O urso visita o amigo Ió esperando compartilhar uma refeição, quando percebe que o burrinho perdeu sua cauda. Sem demora, os amigos se reúnem para ajudá-lo, contando com planos sempre brilhantes do Corujão, que mete todos em muitas enrascadas ao pensar que além de Ió, Christopher Robin está passando por problemas, graças a uma terrível criatura que teria raptado o menino.
O desenvolvimento da trama é leve e por demais inocente. O Ursinho Pooh é uma fábula infantil das mais esmeradas, que cativa os pequenos com mensagens bem construídas de amizade, coragem e amor ao próximo. Obviamente, não é o tipo de filme que os pais estão acostumados a assistirem com seus filhos hoje; aqui, não há pretensões de agradar o público adulto com piadas ou situações que não sejam percebidas pelos pequenos. O filme, desta vez, é deles.
Sem ousar muito na estética - embora haja o recurso de contar a história como saída das páginas de um livro, isso nem de longe é novidade no cinema animado - O Ursinho Pooh traz uma trilha sonora inspirada, interpretada no original pela talentosa Zooey Deschanel, que além de excelente atriz mostra ter uma voz melodiosa. As canções se encaixam perfeitamente ao visual do filme, e a faixa principal - So Long - deve representar o filme na próxima cerimônia do Oscar.
Embora muito provavelmente seja visto por poucos, O Ursinho Pooh é uma boa notícia para aqueles que ainda pensam que a animação tradicional morreu. As boas histórias estão aí, para serem contadas, e nem todo bom roteiro cai como uma luva para uma animação digital. A arte de animar é muito maior do que pura e simplesmente a escolha de uma técnica. Se a animação é feita com o coração, dificilmente não será bem sucedida.
Cotação: ***
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