Crítica: Contra o tempo

Tem gente que acha que Matrix acabou com o cinema. Não concordo. Apesar de não ser um dos fãs entusiastas do filme dos Irmãos Andy e Larry Wachowski (o original, ok? Não as dispensáveis continuações caça-níqueis), tenho que concordar que ele se tornou uma revolução no cinema moderno, e começou a ditar o visual que os filmes de ação deveriam ter dali a diante.

Obviamente que seguir apenas um estilo não é o ideal. Para um cineasta se destacar, ele precisa ter personalidade. E foi o que conseguiu o diretor e roteirista Duncan Jones, que baseando-se em uma teoria científica doida, conseguiu realizar um dos filmes mais originais do gênero de ficção científica a surgir nas telas nos últimos anos.


Contra o tempo é daqueles filmes que te fazem ficar grudado com os olhos na tela do início ao fim. E se você esperava uma experiência cinematográfica comum, isto já cai por terra logo nos primeiros minutos, com uma sequência de planos que se alternam de maneira empolgante e situam o expectador do ambiente onde se desenrolará quase que 90% da trama, ao som de uma trilha musical que entra na mente logo de cara.

A trama do filme acompanha o soldado Colter Stevens (Jake Gyllenhall), que certo dia acorda relutante dentro de um trem, parecendo perdido. À sua frente, uma mulher agradece por um conselho que ele lhe deu. Uma sequencia de eventos ocorrem, envolvendo direta ou indiretamente outros passageiros, enquanto Colter tenta convencer sua acompanhante de que ele não é a pessoa que ela pensa que é, mas sim um capitão do Exército e piloto militar em missão no Afeganistão. Ao ver seu reflexo, no entanto, ele enxerga alguém totalmente diferente. Minutos depois, o trem em que eles estão explode. Ao acordar novamente em um ambiente fechado, ele fica ciente de que está tomando parte de uma experiência do governo, e tem uma tarefa assustadora pela frente: utilizar os oito minutos finais da memória de Sean Fentress (Frédérick De Grandpré) para descobrir quem é o culpado e onde está a bomba que explodiu o trem em que o professor estava junto de Christina Warren (Michelle Monaghan). Se cumprir a sua missão, Stevens poderá evitar um segundo e mais destrutivo ataque terrorista nos Estados Unidos. Para tanto, Colter terá que vivenciar este terror repetidas vezes, tendo como auxílio uma experiente agente governamental que está auxiliando no projeto (a belíssima Vera Farmiga).

A teoria do código fonte é uma doideira interessante, do tipo que você escutaria da boca dos nerds de Big bang theory. Ela diz que o “campo eletromagnético” do cérebro continuaria a funcionar brevemente mesmo após a morte, como se o circuito neural pudesse continuar aberto e o cérebro conseguisse manter preservados os últimos oito minutos da memória da pessoa. Estes dois fatores permitiriam que fosse criado o “código fonte”, que explora a sobreposição dos dois fenômenos, e que serve de base para o desenvolvimento das idéias do roteiro.

Nem precisa dizer que o ritmo do filme é frenético, e apesar da repetição das cenas inicialmente incomodar, tudo fica mais interessante quando começa a fazer sentido. A jornada de Colter não é apenas para descobrir e frustar a ação do terrorista, mas também de entender o que teria acontecido com ele, e porque suas memórias recentes parecem ter sido retiradas de sua mente. Para compor o clima, montagem e fotografia são utilizadas de maneira impressionante, mostrando que o diretor, embora inexperiente, saiba muito bem o que quer para seu filme.

Claro que mesmo contando com um bom roteiro e um visual arrebatador, o filme não funcionaria se seu elenco não cooperasse. Jake Gyllenhall já havia provado anteriormente que era capaz de segurar um filme como protagonista, e aqui está mais uma prova. Sua química tanto com Michelle Monaghan quanto com Vera Farmiga funciona, e olha que com a segunda ele sequer chega a contracenar "de corpo presente". Falar mais seria entregar as boas surpresas que o filme promete.

Contra o tempo é uma boa pedida para aqueles que gostam de assistir um bom filme e ficar com o cérebro meio baratinado. Não chega a ser um Inception, mas cumpre bem o seu papel e entretém com qualidade. Mais um diretor cuja a carreira, parece, será interessante de acompanhar.

Cotação: ***

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