Crítica: Capitão América - O Primeiro Vingador
O ano de 2011 quebrou alguns paradigmas no que se diz respeito às adaptações de quadrinhos do Universo Marvel. Para começar, introduziu o universo mágico da editora, enraizado de maneira exemplar pela Asgard de Thor. Em X-Men - primeira classe, flertou com a Era de Prata dos quadrinhos, ao situar a trama durante os anos 60. E agora, com Capitão América - O Primeiro Vingador, entrega o primeiro filme de super herói totalmente desenvolvido na época da Era de Ouro das criações de gênios como Bob Kane, Joe Simon, Jack Kirby, entre outros.
Este foi com certeza o trabalho de casa mais difícil do Marvel Studios até aqui. Em suma, apresentar o Capitão América para o grande público é tentar disfarçar de alguma forma pontos vitais de sua caracterização clássica, já que sua criação na década de 40 se deu durante a explosão dos quadrinhos de guerra nos EUA, que possibilitaram a estréia de todos os heróis patrióticos. Hoje, quando os lucros de um filme são representados quase que 70% pelos mercados internacionais, é extremamente perigoso pensar em um super herói que representa claramente os ideais do american way of life. Mas os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely tiveram sucesso e conseguiram transpor para as páginas de seu roteiro o lado humano por trás do super herói, deixando o nacionalismo em segundo plano.
O diretor de Capitão América - O Primeiro Vingador, Joe Johnston, é cria de Steven Spielberg, e tem em seu curriculum aventuras interessantes como Jumanji, e escorregões homéricos como o recente O lobisomem. Em seu melhor trabalho, cria uma atmosfera bem próxima da dos quadrinhos, com um design de produção que salta aos olhos, caracterização visual quase perfeita dos personagens (o uniforme do Capitão é fiel aos quadrinhos e ao mesmo tempo se adapta perfeitamente à estética cinematográfica), e boas sacadas no desenvolvimento da narrativa. O filme lembra em muitos momentos aventuras clássicas como Caçadores da Arca Perdida (que, para os mais atentos, é homenageado em uma das primeiras sequencias), mas sem se esquecer de sua gênese de quadrinhos.
Diferente de Thor, que centralizou muito de sua história como um aperitivo ao que seria visto futuramente em Os Vingadores, o filme evento de 2012 e sonho absoluto de 9 em cada 10 nerds, Capitão América - O Primeiro Vingador capricha nas referências ao Universo Marvel e ao que já foi mostrado nos outros filmes da produtora, mas não se esquece em nenhum momento de que é o filme solo do bandeiroso. Em suma: você poderá traçar um paralelo com os filmes do Homem de Ferro, com a mitologia Asgardiana e até mesmo com o lado "cósmico" da Marvel, mas a persona de Steve Rogers é claramente o ponto central da história. Sua existência e do seu nêmesis, o Caveira Vermelha, é explicada na síntese mais clara do que é o significado da existência do bem e do mal, com um argumento pra lá de filosófico.
O elenco estrelado é um facilitador para o sucesso do filme. Como coadjuvantes, Tommy Lee Jones, Dominic Cooper, Stanley Tucci e Toby Jones brilham sem necessariamente eclipsar o astro principal, que é Chris Evans no papel do herói. O jovem ator, por sinal, faz aqui o melhor trabalho da carreira, nos fazendo esquecer dos tipos poucos memoráveis que havia representado basicamente nas comédias e filmes teen que constituíram a base de sua carreira, inclusive do herói alívio cômico que viveu em Quarteto Fantástico. Como Steve Rogers, ele impõe sua presença tanto na faceta frágil do princípio do filme quanto na postura heroica que predomina do segundo ato até o final. Hayley Atwell faz de Peggy Carter uma mulher forte, mas que não perde sua beleza e essência femininas. E Hugo Weaving? O intérprete do Caveira Vermelha é um astro pop por natureza, tendo sido responsável, dentre outros, pelos memoráveis Codinome V, de V de Vingança, e pela voz do também vilanesco Megatron, em Transformers. O Caveira Vermelha é o vilão perfeito na composição do ator: maléfico, louco e verdadeiramente perigoso.
Se um dia houve a Era de Ouro dos quadrinhos, vivemos a Era de Ouro das adaptações de heróis para o cinema. Capitão América - O Primeiro Vingador continua de forma mais que convincente um caminho que não tem mais volta: estamos diante do tempo dos super heróis nas telas grandes. Ano que vem, Os Vingadores fechará este primeiro ciclo, reunindo todos os heróis dos filmes da Marvel Studios, e preparando terreno para a chegada de outros nomes clássicos dos quadrinhos às telas no futuro, como Homem Formiga, Punho de Ferro e Pantera Negra. Vontade de ver esses caras brilharem nas telas não nos falta. Como bom fã de histórias em quadrinhos, só me resta comemorar.
Cotação: ***
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