Crítica: Meia Noite em Paris

Não é difícil entender o motivo de Paris fascinar tanto as pessoas. A belíssima capital francesa já serviu de cenário para tragédias clássicas, romances ardentes, dramas intimistas, musicais exagerados e comédias deliciosas. A variedade de gêneros é facilmente explicável, uma vez que a Cidade Luz parece combinar com tudo. E nada melhor que uma alma estrangeira para captar o que ela tem de melhor.

Woody Allen fez bem em trocar Nova York, sua recorrente locação fílmica, pelas capitais Européias. Até demorou para chegar em Paris. A câmera do diretor, que capta tão bem os arranha céus de Manhattan, também esbanja vitalidade ao encontrar a beleza clássica do velho continente. Não existe coisa melhor que admirar Paris. Para tanto, o diretor entrega alguns minutos de seu filme para uma empolgante viagem pela cidade, que vai agradar tanto aqueles que ainda não a conhecem, quanto os que já guardam grandes recordações de sua estadia por lá. Através de panorâmicas, imagens fechadas e plongées, a platéia é inserida de maneira primorosa no ambiente onde estarão interagindo os personagens. É como um convite para uma viagem, em que a jóia Francesa é a atriz principal. Ao seu melhor estilo, Woody Allen entrega a cidade como un personagem.

Mas não só de imagens belíssimas vive este Meia noite em Paris. Woody Allen deixa de lado os dramas e comédias urbanas para se entregar a uma deliciosa trama que usa e abusa da metalinguagem, para discorrer de forma bem humorada sobre as dificuldades de se viver em um mundo diferente do que imaginamos ser um mundo perfeito, em nossa própria concepção.


Não se pode dizer que o diretor foge totalmente ao seu estilo peculiar. Para começar, seu alter-ego da vez é representado por Owen Wilson, que desempenha de maneira excelente o jeitão neurótico tão característico dos protagonistas de Allen. Roteirista frustado de Hollywood, ele sonha em tornar-se um escritor de verdade, como seus ídolos Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, e acredita que uma temporada em Paris, cidade que idolatra como local propício para a expressão artística, seja a chance ideal para finalizar seu livro e desfrutar de momentos românticos com sua noiva, uma típica americana deslumbrada que tem pouquíssimo (ou quase nada) a ver com ele. Em uma de suas andanças sozinho pela cidade, ele acaba transportado magicamente para a Paris dos anos 20, e tem a chance de vivenciar sua época predileta na cidade, além de conhecer e interagir com figuras ícones da literatura, cinema, artes plásticas e pintura, muitos deles seus grandes ídolos. Suas aventuras na madrugada e a paixão por uma adorável francesa cujo sonho era viver na Belle Époque mudarão radicalmente sua forma de encarar a própria vida e o seu destino.

A trama é perfeita para Woody Allen exercer toda a sua maestria como contador de histórias e criador de personagens. Desfilam pela tela figuras emblemáticas, além dos escritores já citados, como Toulouse Lautréc, Pablo Picasso, Luis Buñuel e Salvador Dalí - este último incrivelmente retratado por Adrien Brody, em uma pequena mas engraçadíssima sequência. Longe de apenas jogar as figuras históricas no roteiro, o diretor consegue desenvolver suas personalidades e torná-los críveis, de uma maneira inteligente e elegante, sem esquecer, é claro, de um pouquinho de humor. Um trabalho genial de composição e direção, como de costume nas obras deste mestre na arte do cinema.

Não satisfeito em enveredar pelo caminho do surrealismo, o diretor também aproveita para fazer uma crítica velada ao pseudo-intelectualismo, que é ainda mais interessante se considerarmos que este é o seu filme mais intelectual em muito tempo - seja pelo tema, seja pelos diálogos extremamente bem trabalhados (alguns trechos do roteiro são poesia pura). Não é um filme difícil de se acompanhar nem complicado de entender, mas para desfrutar de tudo você precisa se ligar nos mínimos detalhes, o que garante uma experiência cinematográfica nada menos que extraordinária.

Como não poderia deixar de ser, não faltam beldades do sexo feminino, no entanto nenhuma outra consegue se contrapor à beleza estonteante de Marion Cotillard. A atriz francesa cai como uma luva no cenário, e fica difícil desgrudar os olhos dela quando está em cena. Tarefa hercúlea decidir quem é mais glamourosa, se ela ou as paisagens verdejantes de Paris.

Meia noite em Paris é um marco para a recente cinematografia do diretor nova iorquino, pois é como uma volta às origens de seu cinema mais requintado. Desde Match Point não se via um trabalho tão inspirado de Allen nas telonas, e isso não é pouca coisa. Curiosidade não falta aos fãs do mestre sobre qual serão suas próximas paradas longe de sua querida terra natal. Nada melhor do que acompanhar uma viagem de qualidade como esta, e no banco da frente.

Cotação: ****


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