Crítica: Lanterna Verde
As vezes a gente precisa separar as coisas para conseguir se satisfazer por completo ao assistir um filme. Mesmo que já estejam atingindo um público maior - vide o sucesso de Homem de Ferro -, as adaptações de quadrinhos ainda possuem um público específico ao qual, teoricamente, os filmes devem ser direcionados. Se você é nerd e sonhava em ver um dos seus super heróis favoritos na telona do cinema, Lanterna Verde vai te agradar em cheio.
Não encare isto como uma crítica negativa ao filme: Lanterna Verde talvez só tenha um defeito, o de não ter sido pensado para agradar ao público em geral. Em termos de aventura, visual, e principalmente, fidelidade ao personagem e seu universo, trata-se de um trabalho fantástico para a Warner Brothers, que já havia decepcionado com o sem sal Superman, o retorno e parecia acertar com heróis apenas nos filmes do Batman ou de uma ou outra adaptação de graphic novel (como V de Vingança e Watchmen).
Para começar, Lanterna Verde sempre pareceu um herói da Marvel enraizado no Universo da DC Comics, ao menos na minha percepção. Por que motivo? As aventuras cósmicas do guerreiro esmeralda são um pouco mais "fantasiosas" que as vividas pelos demais heróis da casa, tais como Batman, por exemplo. O filme aproveitou ao máximo logo de cara esta característica do personagem, e jogou o público em sua mitologia sem muito tempo para algumas perguntas que costumam vir na cabeça daquele cara comum que está indo ao cinema para simplesmente assistir um filme e se divertir. Este não é, definitivamente, um filme para não iniciados. E sua curta duração só complica as coisas.
Mas este é um texto escrito por um fã do personagem, antes de apenas por um fã de cinema. E como tal posso adiantar - sem entregar spoilers, já que aqui no Brasil o filme chegará apenas em agosto - que se você der uma chance, Lanterna Verde pode ser divertido tanto se você sabe de cor quem são todos os Lanternas famosos da Tropa de Oa ou se você nunca tinha ouvido falar de Sinestro, Abin Sur ou Kilowog. Com um roteiro redondo que faz o possível para desenvolver os personagens principais no curto tempo disponível, o filme é um deleite visual desde o seu início ao agitado final.
O filme começa explicando rapidamente como o Universo é dividido em áreas específicas, sendo cada uma delas protegidas por um Lanterna Verde, um guerreiro cósmico munido de um anel de poder que o permite criar tudo aquilo que seu cérebro for capaz de imaginar. No mesmo prólogo, é apresentado o inimigo Parallax, e a ameaça que o mesmo representa. Com cortes rápidos, também vemos Abin Sur, que é derrotado pelo vilão e vai para a terra selecionar um substituto para seu anel, antes de sua morte. O escolhido é o piloto de testes Hal Jordan (Ryan Reynolds), um tipo com jeito de herói, mas um pouco desajustado. Hal é escolhido como o primeiro Lanterna Verde terráqueo da história, e terá de dominar seus medos e fraquezas para conseguir enfrentar um mal que se espalha rapidamente pela galáxia e está prestes a ameaçar a segurança na terra.
Pode parecer pouca coisa para um filme de pouco mais de 90 minutos, mas não é. Como uma história de origem, Lanterna Verde precisa amarrar diversas pontas para se tornar palatável para aqueles que não conhecem o herói. Um exemplo é o vilão Hector Hammond, brilhantemente interpretado pelo ator Peter Sarsgaard, mas que não tem as motivações bem trabalhadas pelo roteiro, o que torna suas aparições menos impactantes do que deveriam ser. Mas se o script peca por este lado, com Sinestro o jogo é completamente diferente. Mark Strong está excelente no papel do soberano de Oa, e transmite a desconfiança em seu caráter necessária para intrigar o público e garantir os planos do estúdio para uma continuação (os fãs entenderão os recados óbvios de que, havendo um próximo filme, ele terá como pano de fundo a Guerra dos anéis).
Se é preciso falar de erros (além do já apontado estilo de filme para fãs que permeia a produção), posso dizer que esperava mais do terceiro ato, que acaba transcorrendo de uma forma meio óbvia. Outro ponto foi a economia clara de gastos nos efeitos especiais de algumas sequencias, principalmente as que mostram a tropa dos Lanternas Verdes, reunida, enfrentando Parallax pela primeira vez. Mas isto fica compensado pelas boas sequencias de ação, em que o diretor Martin Campbell soube usar de forma inteligente os constructos, com um visual pra lá de competente (até pistas de Hot Weels são imaginadas pelo herói para livrá-lo de algumas enrascadas).
Você estranha eu não ter comentado sobre Ryan Reynolds? Bem, a presença do ator não prejudica mas tampouco ajuda o filme como foi o Tony Stark de Robert Downey Jr. Basta dizer que o ator está adequado em cena como o super herói, mas não mostrou nada de novo em sua atuação, o que é um pouco desapontador, depois de conferir seu trabalho visceral em Enterrado Vivo. A força de um bom diretor de atores mostra-se, aqui, mais do que vital.
Lanterna Verde é a chance de redenção da DC Comics para seu Universo de heróis nas telas de cinemas. A primeira recepção da crítica especializada e do público nos cinemas foi morna, e os resultados da bilheteria podem não animar a Warner Bros a seguir em frente com as aventuras espaciais de Hal Jordan, e quem sabe, outros Lanternas terráqueos que estão por aí nos quadrinhos e na TV e são queridos pelos fãs. É fato que a decisão de um lançamento setorizado ao invés de uma estréia mundial pode prejudicar ainda mais o resultado final. Afinal de contas, nem o anel energético é capaz de carregar um filme de gordo orçamento se o retorno for fora do esperado. Coisas do capitalismo.
Cotação: ***
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