Crítica: Piratas do Caribe - Navegando em águas misteriosas

Jerry Bruckheimer não gosta de fracassos. Pudera. O produtor é por muitos considerado um "midas", um daqueles caras que não importa no que se metem, conseguem sair no lucro. No entanto, seus dois últimos projetos haviam feito uma curva meio irregular (a adaptação de video-game que se pretendia série cinematográfica Príncipe da Pérsia e o filme de magos que queria tirar uma vantagem da mania Harry Potter, Aprendiz de feiticeiro). Provando não ser nada bobo, o executivo resolveu retornar à sua galinha dos ovos de ouro. Nesta quarta parte das aventuras dos bucaneiros liderados por Johnny Depp, apenas os personagens estão navegando em águas misteriosas; a Disney sabe direitinho o que esperar dessa maré.

Assim nasceu Piratas do Caribe 4. A franquia dos piratas - baseada no célebre brinquedo da Disneylândia - aposta em suas fórmulas já bem sucedidas nos capítulos anteriores para fazer mais alguns milhões: personagens carismáticos, vilões medonhos, casais sem sal e efeitos especiais mirabolantes.


Quem achava que Orlando Bloom e Keira Knightley fariam falta, perde essa sensação logo nos primeiros minutos de projeção. O que faz a diferença em Piratas do Caribe são os piratas, e indo de encontro ao que todos dizem, não apenas Jack Sparrow, mas também o excelente Geoffrey Rush como Barbossa. O ator confere um aura de respeito a qualquer produção que esteja, e é sempre bom vê-lo de volta em projetos mais leves.


A novidade mais instigante deste novo filme era a troca de comando na cadeira de diretor: sai Gore Verbinski, entra Rob Marshall, um artista mais acostumado com os números musicais, vide seus últimos trabalhos (Chicago e Nine). Marshall consegue entregar mais vivacidade às cenas de ação, embora as peripécias de Jack Sparrow estejam tão bem amarradas que até parece que o personagem andou tendo umas aulinhas com o Coringa de Heath Ledger, de Batman, o cavaleiro das Trevas. Tudo dá certo para o divertido capitão. Desta vez, ele também se envolve em um romance entre tapas e beijos com ninguém mais ninguém menos que Penélope Cruz. Ver a belíssima atriz espanhola de roupa de pirata é a parte fetiche do filme que deve agradar ainda mais o público masculino.


Plasticamente, o filme não fica a dever a seus anteriores, pois os efeitos especiais funcionam e a escolha de locações é um espetáculo à parte (sempre é bom ver nas telas um pouco da antiga Londres, deslumbrante como de costume). Nota-se uma diferença pela escolha de planos, algo que pode ser atribuído ao histórico do diretor. As cenas que envolvem o ataque das sereias - a Disney, aqui, é ousada, retirando do público a imagem destes seres que foi transmitida por gerações graças do sucesso do clássico A pequena sereia - são espetaculares, e muito bonitas visualmente. Também pode-se destacar as tomadas realizadas no barco de Ponce de Léon, em que Sparrow e Barbossa lutam contra o desequilíbrio de uma proa pronta a desabar. Mais uma vez, é o talento dos atores que faz a diferença.


Agora, os pontos fracos: quase todos são erros que já haviam sido cometidos nos filmes anteriores, o que mostra que os bilhões que a série já faturou cegou seus roteiristas e produtores. O que faz este novo casal no filme? O missionário cristão e a sereia conseguem ser ainda mais chatos que os protagonistas das aventuras anteriores, mas com o agravante que desta vez os persongens não tem praticamente relevância alguma na trama. Será apenas uma desculpa para carregar as meninas para o cinema? Uma dica: não precisa. Johnny Depp, sozinho, se encarrega da tarefa. O roteiro também não é dos mais bem construídos, cheio de furos fenomenais (Keith Richards está na trama apenas para uma ajudinha no aluguel do mês, ou alguém vê outro motivo?), e arrastado em alguns momentos. O novo vilão, Barba Negra, fica mais na promessa do que efetivamente é visto no desenrolar da trama, o que é uma pena, dado o grande talento do veterano Ian McShane.


Se forem considerados todos os prós e contras, Piratas do Caribe 4 consegue se sair bem, e vale como diversão escapista e descomprometida. Os fãs de Jack Sparrow podem esperar um novo filme, o que o final deste deixa mais do que óbvio - novamente. Enquanto os cofres da Disney encherem e o amor de Johnny Depp pelo personagem (ou será pela grana?) permanecer, a franquia vai fazer parte integrante de ainda muitos verões. Só não chamem Will Turner de volta, pelamordedeus.


Cotação: **


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