Critica: Rango

Mesmo quem tem uma certa birra com a série de filmes Piratas do Caribe tem que tirar o chapéu para Gore Verbinski. O diretor conseguiu transformar o brinquedo da Disneylandia em uma franquia lucrativa, com um dos filmes figurando na seleta lista de maiores bilheterias mundiais da história. Tudo bem que a atuação inspirada de Johnny Depp como o pirata Jack Sparrow ajudou - e muito! - o sucesso dos bucaneiros, mas é fato que o diretor teve visão e soube levar o projeto.

Em sua primeira incursão pela animação, Verbinski mostra que realmente é um visionário. Não bastasse criar uma história animada no velho oeste - algo totalmente inusitado no gênero - ainda conseguiu um visual deslumbrante e diferente para sua galeria de personagens, o que faz de Rango, desde já, um marco no cinema animado.


Contando a história de um lagarto de aquário que se perde em um deserto americano, Rango tem tudo que os fãs de animação podem querer: um roteiro enxuto e bem elaborado, bons personagens coadjuvantes e um visual arrebatador. Logo de começo o diretor mostra que não brinca no serviço: todas as peculiaridades do réptil são aproveitadas no roteiro - inclusive a troca de pele, em uma sequencia sensacional em que a perfeição da animação salta aos olhos.

Não espere mesmice na narrativa de Rango. O filme faz uma divertida homenagem aos clássicos de faroeste, com direito a duelos de pistoleiros, assaltos a banco, diligências e até mesmo a aparição do "espírito do oeste". Os temas são apresentados de maneira inteligente, e as reviravoltas na vida de Rango - que acaba se tornando o xerife da cidade de poeira, que sofre pela falta de água - são bem exploradas, e brincam com os clichês típicos deste gênero cinematográfico.

Visualmente o filme é um espetáculo. As locações são definidas com uma riqueza impressionante de detalhes - e por diversas vezes você pensará estar assistindo a um live action. Não bastasse este apuro técnico, a palheta de cores escolhida pelo diretor favorece a fotografia e ajuda a colocar o público no espírito da história - que, se você pretende levar as crianças ao cinema, não tem nada de infantil.

Gore Verbinski tem muito que se orgulhar do seu conjunto de personagens. Se o lagarto Rango já é interessante de se ver, o que dizer de Jack Cascavel? A cobre vilã tem uma presença fantástica em cena, em um trabalho de animação que deve ser aplaudido de pé. Além deles, as corujas cantoras e a lagarta Feijão (interesse amoroso do protagonista) também se destacam. As paralisias de Feijão são por demais engraçadas, e mostram que até as curiosidades mais exóticas destes animais foram brilhantemente aproveitadas pelo roteiro.

Rango abre muito bem uma temporada que deve ser concorridíssima para o cinema animado. Afinal de contas, ainda não existe nenhum candidato a "filme animado do ano", pois até a Pixar está entregando uma continuação de um de seus filmes menos aclamados - embora Carros 2 ainda possa surpreender. Muita coisa boa vem por aí!

Cotação: ***

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