Crítica: Cisne Negro

Darren Aronofsky é um diretor reconhecido pelo seu talento na condução de atores. É só relembrar da carreira do cineasta para confirmar sem nenhuma dúvida esta afirmação. O que dizer de Ellen Burstyn, Jennifer Connely e Jared Leto no forte Réquien para um sonho? Ou da atuação de Mickey Rourke no recente O Lutador, que foi vital para o ressurgimento do ator nas grandes produções de Hollywood, depois de um longo período de decadência? Em todos os seus projetos, são notáveis os desempenhos de seus comandados, seja em papéis principais, seja como coadjuvantes.

Cisne Negro não foge desta regra. A diferença, aqui, é que uma estrela brilha mais do que qualquer outra no excelente elenco do thriller psicológico sobre os bastidores de uma tradicional companhia de Balé americana: Natalie Portman, que entrega uma atuação arrebatadora.

O filme conta a história de Nina, uma dedicada bailarina do balé de Nova York. Acostumada a ser coadjuvante nas apresentações, ela finalmente tem a chance de alcançar o estrelado quando a principal estrela de sua companhia é afastada devido a sua idade avançada, e ela é a escolhida para protagonizar a adaptação de “O lago dos cisnes”, onde teria de representar o Cisne Branco e seu antagonista, o Cisne Negro. A técnica e fragilidade da moça são perfeitas para o papel de Cisne Branco, mas destoam para o Cisne Negro, que exige uma dança mais passional e sensual. A pressão pessoal de Nina pela perfeição, seu relacionamento conflituoso com a mãe e as exigências do seu treinador para que ela se entregasse de corpo e alma ao personagem resultarão em um conflito entre sua personalidade e a do Cisne Negro, com conseqüências inesperadas.


É preciso assistir ao filme para compreender o quão surpreendente é a performance da atriz. Basta dizer que sua atuação foi intensa tanto nos bastidores quanto em frente das câmeras, onde atriz e personagem rivalizavam. O mais evidente traço de sua perfeição em cena são as passagens finais, quando Nina altera completamente sua personalidade e sua dança. Quem acompanhou a produção do filme sabe que a dedicação de Natalie Portman aos ideais de Darren Aronofsky para o filme se confundem com a própria história que está sendo contada. É o ápice da entrega de uma atriz ao seu diretor, na vida real e na tela.


A câmera de Aronofsky atinge ângulos impressionantes nas cenas de balé, como se ela fosse mais uma bailarina. O recurso utilizado pelo diretor de acompanhar a ação com a câmera na mão promove naturalidade aos planos: você vai sentir como se estivesse ao vivo numa apresentação. Soma-se a isto a utilização de closes e planos fechados que valorizam a dramaticidade imposta pelo roteiro, enxuto, e que funciona perfeitamente.

Cisne Negro recebeu indicações importantes ao Oscar – incluindo a primeira como melhor diretor para Darren Aronofsky. Se premiado, será o reconhecimento de um dos diretores mais importantes do atual Cinema Americano. E o prêmio de Natalie Portman? Nada a declarar. Seu favoritismo é justificado em cada frame deste seu grande trabalho. E não digo isso apenas por achá-la maravilhosa; maravilhoso é poder acompanhar a sua grande performance. E babando, em diversos sentidos.

Cotação: ****

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