Crítica: 127 horas

Era um vez, Danny Boyle. É triste começar esta crítica com esta afirmação. O outrora excelente diretor, que uma vez realizou um filme perfeito como Trainspotting, parece estar perdido em sua arte. O caldo já havia entornado dois anos atrás, quando ele "cometeu" Quem quer ser o milionário?, filme encomendado pela indústria para selar um acordo de comadres entre Hollywood e Bollywood (como é conhecida a indústria cinematográfica Indiana). Agora, parece que o prestígio do diretor foi-se de vez.

Todos devem estar achando estranhas estas afirmações, uma vez que o novo filme do diretor está entre os concorrentes ao prêmio máximo do Oscar 2010. Certamente, os méritos que levaram 127 horas para a disputa passam longe da direção equivocada de Danny Boyle.


O filme que conta a impressionante história de sobrevivência do montanhista americano Aron Ralston, e que foi baseado no livro autobiográfico escrito por ele, poderia ser um excelente drama intimista sobre um homem preso a uma situação desesperadora e salvo pela sua própria vontade de sobreviver. Nas mãos de Danny Boyle, porém, o que vemos é uma sucessão de equívocos de linguagem, uma montagem com mais dinamismo do que o necessário e uma nítida sensação de megalomania. 127 horas atrai o público mais pelas imagens arrebatadoras do que pela narrativa em si.

Faz-se aqui um parênteses sobre o grande (e único) trunfo do filme: a interpretação inspirada do ator James Franco. Se alguém ainda duvidava do talento do rapaz - ele já havia demonstrado que era um ator versátil em filmes como Segurando as pontas - não tem mais o que dizer. Carregando o filme nas costas (já que é praticamente o único em cena em mais de 90% da projeção), sua interpretação só não é ainda mais favorecida pelos evidentes problemas do roteiro. As cenas mais impressionantes são as que Aron registra a si próprio em sua filmadora, como que deixando um legado para os entes queridos, caso nunca retornasse a vê-los. Sua simulação do personagem como o entrevistado, o entrevistador e o convidado de um programa de TV - um dos delírios que ele tem diante de sua situação de vida e morte - é nada menos que espetacular, e deve arrancar risos nervosos e até mesmo lágrimas dos mais sensíveis.

Não consegui deixar de pensar em filmes como Na natureza selvagem e Enterrado Vivo antes de assistir 127 horas. Na minha visão, Danny Boyle tinha tudo para conseguir realizar um misto destas duas grandes experiências cinematográficas - já que tinha a história e as paisagens similares ao primeiro e a experiência de sobrevivência claustrofóbica levamente semelhante a do segundo. Não consegue ser um décimo nem de um, nem de outro.

Entre tantas decepções deste filme - que junto com Cisne Negro era uma de minhas apostas mais certas de serem grandes produções - uma coisa fica mais do que certa: Danny Boyle é um diretor que não merece mais que sua carreira seja acompanhada com afinco. A menos, é claro, que você seja masoquista. Gosto não se discute.

Cotação: **

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