Crítica: O Mágico

Ainda tem muita gente que não entende que animação deixou de ser coisa para criança. Atualmente, cada vez mais cineastas enveredam no gênero, criando filmes autorais e diferentes do que estamos acostumados a encontrar nas telas. A animação desperta cada vez mais como uma forma de arte indispensável para a sétima arte, consagrando animadores profissionais ou mesmo iniciantes com grande potencial.

Quem gosta deste estilo de cinema não pode deixar de admirar o talento do francês Sylvain Chomet, o diretor do maravilhoso As bicicletas de Belleville. O animador tem um estilo peculiar e uma visão complexa para os iniciados, principalmente aqueles que acham que filmes de animação devem ter temáticas simples. Novamente ele surpreende com o novo O Mágico.


É claro que para os mais integrados com a história do cinema francês, logo nos créditos iniciais já se tem idéia de que O Mágico não será um filme comum: o roteirista é ninguém mais, ninguém menos que Jacques Tati, cineasta francês que dirigiu clássicos como As férias de Mr. Hulot e Tempo de diversão. O personagem principal, aliás, é chamado de Tatischeff, e sua semelhança física com Tati e até mesmo sua história contada na animação fazem de O Mágico um trabalho quase autobiográfico.

Não bastasse o grande nome por trás do roteiro, Chomet imprime seu toque pessoal a cada frame. Politizado, o diretor se aproveita para criticar aspectos sociais relevantes, seja por passagens mais elaboradas - como as cenas iniciais, em que o artista mambembe enfrenta todas as dificuldades de concorrer com o avanço da cultura pop e da influência cultural norte-americana - seja por detalhes mais simples - as pichações nos muros de Edimburgo propondo a libertação da Escócia. Assim como As bicicletas de Belleville, o filme tem um fundo social muito forte, e grande parte dele centrado no personagem da menina Alice. A camareira escocesa pobre e sonhadora vê em sua amizade com o mágico uma chance de mudar de vida.

Os personagens não precisam de palavras para nos emocionar. Como no filme anterior do diretor, O Mágico tem pouquíssimos diálogos (as cópias brasileiras sequer estão legendadas), e Chomet consegue de forma única transpor todas as emoções através dos personagens e das maravilhosas imagens, cortesia da fotografia inspirada, que faz surgir em toda seu deslumbramento e beleza cidades como Paris, Londres e Edimburgo, animadas com perfeição e uma riqueza impressionante de detalhes.

Pontuado por diversas cenas emocionantes principalmente no ato final, O Mágico ainda reserva para os amantes do cinema - seja ele animado ou não - um belíssimo plano sequencia, onde a câmera do diretor viaja 360 graus do cume de uma montanha retornando para o ambiente bucólico da metrópole, criando uma metáfora perfeita do ideal do "ser livre". Só assistindo para entender o quão profunda é a mensagem transmitida.

O Mágico é um grande presente para os admiradores desta arte tão sutil que é a animação. Uma mostra clara de que o cinema animado está aí, comercial ou alternativo, e que não vai deixar de aparecer - e nos surpreender - por um bom tempo.

Cotação: ****

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