Crítica: Jogos Mortais 7
O cinema de suspense e horror hollywoodiano passava por uma crise criativa sem precedentes até muito recentemente. Nas telas, o que se via com mais frequencia eram as refilmagens, seja de clássicos do passado (até Psicose sofreu com esse mal) ou mesmo de hits orientais (Ringu, ou O Chamado, como é conhecido por aqui). Mesmo mestres como Wes Craven se rendiam ao óbvio (o que não dizer das sequências pouco memoráveis do excelente Pânico?). Em 2004, no entanto, um novo sopro de vida ao combalido gênero chegou aos cinemas, com a estréia do primeiro Jogos Mortais.
O filme de James Wan foi um absoluto sucesso de público e de crítica, e criou um novo ícone do terror - o sádico psicopata conhecido como Jigsaw (interpretado pelo ator Tobin Bell, que provavelmente nunca irá se livrar do estigma do personagem). Misturando uma trama bem elaborada de suspense com cenas fortes de tortura e mutilação, Jogos Mortais mostrou que era possível um filme de horror ter consistência. O final do filme original é, até hoje, um dos momentos mais aterrorizantes do cinema recente, em minha opinião.
Mas apesar de surpreender o mundo com sua trama psicológica, a ganância falou mais alto, e os executivos do estúdio Lions Gate e da produtora Twisted Pictures viram que tinham uma mina de ouro nas mãos. Assim, Jogos Mortais virou uma série, estrearia um novo episódio sempre nos feriados de dia das bruxas, e cairia de qualidade ano a ano sem dó nem piedade. E assim chegamos ao episódio sete, prometido como último capítulo da saga, e entregue na novíssima tecnologia do 3D.
Para a trupe de sádicos que imaginava as armadilhas de Jigsaw que apareciam nos filmes, adicionar efeitos 3D a mistura seria perfeito, afinal, nada melhor do que tripas voando até a cara do público. Mas o problema é exatamente esse. Jogos Mortais perdeu toda a aura de suspense inteligente, para virar simplesmente mais um filme de terror em que os personagens vão surgindo na tela e você só espera o momento em que algo terrivelmente desagradável vá acontecer aos mesmos. Os efeitos 3D são excelentes, mas a sensação de que a história poderia ser melhor está sempre presente.
Alguns acertos foram feitos em relação aos três péssimos capítulos antecessores. Limou-se a estapafúrdia edição de imagens em velocidade que deixava qualquer um tonto na sala de cinema - um truque óbvio para esconder da platéia falhas simples de continuidade e cenografia. Jogos Mortais 7 ainda tem um ritmo acelerado, mas sua montagem funciona, e adiciona a quantidade correta de suspense que uma verdadeira sequência do excelente filme de 2004 deveria ter.
Na trama, ainda se cometem os mesmos erros dos anteriores. Para pretensamente fazer uma ligação geral entre os sete filmes, "cria-se" mais um herdeiro do legado de Jigsaw para juntar-se aos outros tantos que já foram apresentados. Ao mesmo tempo, os roteiristas acertam em incluir o personagem que finge-se de sobrevivente dos jogos do psicopata para lucrar com isso; uma crítica velada a própria ganância dos produtores da série, e também a chance de mostrar mais uma vez Tobin Bell em cena nos flashbacks.
Se o capítulo 7 será o final, não poderemos dizer. Reza a lenda que o estúdio já reservou outro filme para o próximo Halloween. O tempo dirá. Apesar dos pesares, Jogos Mortais deixou seu legado. Afinal de contas, filmes como Abismo do Medo, Arraste-me para o inferno e O Albergue não existiriam se não fosse por ele. Sorte dos fãs do terror, estes masoquistas incuráveis. Muito susto ainda está garantido e virá por aí.
Cotação: **
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