Crítica: Tropa de Elite 2

Criar fenômenos de público sempre foi uma característica dos milionários filmes americanos, que invadem as salas de cinema e dominam quase que completamente o circuito deixando pouco espaço para os filmes de arte e a produção nacional. Nos últimos anos, no entanto, algumas franquias tupiniquins pareceram entender a "fórmula" do sucesso e estão mudando um pouco esta história.

Tropa de Elite aportou nos cinemas em 2007 depois de sofrer com a pirataria - fato que acabou tornando o filme ainda mais popular - e impressionou por apresentar um retrato pouco ortodoxo da polícia carioca, pontuado por muita violência. O filme ganhou prêmios internacionais e foi reverenciado por aqui, caindo na boca do povo e tornando o personagem de Wagner Moura uma espécie de herói nacional.

Não é preciso dizer que o diretor percebeu que estava diante de uma máquina de fazer dinheiro. Tropa de Elite, mesmo com seu conturbado lançamento, rendeu uma fortuna nas bilheterias e seu lançamento em DVD foi um dos mais rentáveis de 2008. Para um segundo filme, faltava pouco. Mas ao contrário do que se podia esperar, Tropa de Elite 2 consegue ser tão eficiente quanto o original.


O subtítulo já indica o principal mote do filme. Na nova empreitada do Capitão Nascimento, os inimigos não são mais os traficantes. Retratando questões atuais como o crescimento do movimento das milícias na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, o roteiro aproveita para atacar de maneira mais dura as instituições e o sistema político brasileiro, deixando claro que o "sistema" tão falado no primeiro filme tem suas engrenagens fincadas no planalto central de nosso país, bem no coração da capital federal.

O diretor José Padilha é um cara corajoso. Tropa de Elite 2 cospe na cara dos políticos brasileiros fazendo referências claras a alguns tipos que estamos acostumados a ver no cenário político nacional. Se o primeiro filme apresentava alguns personagens extremamente caricaturais de maneira proposital, o que se vê aqui é uma utilização mais efetiva deste recurso, só que ainda mais eficiente. Basta notar os excelentes e bem trabalhados personagens de André Mattos e Milhem Cortez (que ganha mais espaço e novamente rouba a cena).

Tecnicamente, o filme repete os acertos do primeiro, contando com um roteiro eficiente, uma trilha sonora bem estruturada e novamente uma edição de fazer inveja a muito arrasa quarteirão americano. O artifício da montagem intelectual é utilizado com primazia, e deixaria Sergei Einsenstein orgulhoso. A fotografia repete a excelência do longa original, ajudando a criar o clima de tensão nas sequências mais fortes. Não deixe de dar atenção ao plano sequência que quase encerra o filme: belíssimo de se ver.

Mas nem tudo é perfeito. Se Wagner Moura novamente esbanja talento como Nascimento, não podemos dizer o mesmo de André Ramiro, que faz de Matias novamente um "homem de uma cara só". Ainda bem que seu tempo de tela é curto. Outro problema é o núcleo familiar do comandante do Bope, que ganha contornos folhetinescos e usa e abusa dos clichês típicos de dramalhões mexicanos. Totalmente desnecessário.

Tropa de Elite 2 caminha para se tornar o maior filme da história do cinema nacional, e não deixa de ser merecido. Prova que, embora não tenhamos talento nenhum para o voto, ainda há esperanças para a produção cinematográfica.

Cotação: ***

Comentários

  1. Nooooooooossa. Muito bom. Já tava com vontade de ver o filme. Depois dessa crítica aí mesmo que quero conferir.
    O final, encerrando a crítica com chave de ouro, foi a melhor parte: "embora não tenhamos talento nenhum para o voto, ainda há esperanças para a produção cinematográfica". Muito bom.

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