Crítica: A Rede Social
David Fincher é o tipo de cineasta do qual você pode esperar surpresas, seja para o bem, seja para o mal. Na carreira, o diretor fez um passeio por gêneros totalmente distintos, desde o terror de Alien 3 até o drama oscarizável de O curioso caso de Benjamin Button; realizou ao menos dois filmes inesquecíveis - o poderoso Seven, os sete crimes capitais e o polêmico Clube da Luta; e cometeu apenas um pequeno deslize - o fraco The Game, com Michael Douglas. Em todos os títulos, no entanto, sempre deixou presente a sua principal marca: a excelência na edição.
O fato se repete com este novo A Rede Social. O filme sobre a criação do Facebook poderia ser apenas mais um drama adolescente caso tivesse caído nas mãos de um cineasta menos experiente e visionário. Com Fincher, no entanto, o roteiro adaptado do romance The Accidental Billionaires se torna um drama conciso sobre companheirismo e aceitação, numa época em que o mais comum para uma grande maioria de jovens é o isolamento frente as telas dos computadores.
O filme conta como o jovem gênio Mark Zuckerberg (interpretado de forma impressionante por Jesse Einsenberg), ainda estudante em Harvard, com a ajuda do amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield, o próximo Homem Aranha dos cinemas), criou a rede social com mais usuários em todo o mundo. É claro que como em toda cinebiografia, muitas das passagens foram criadas especificamente para o filme, ajustando a história ao padrão cinematográfico.
Mas engana-se quem acha que David Fincher pegou leve com os "personagens reais". Ao contrário de Ron Howard, que em Uma mente brilhante transformou John Nash em um herói trágico - deixando de lado muitas de suas imperfeições - em A Rede Social, o diretor mostra de maneira clara o lado sombrio da personalidade de Zuckerberg - as cenas iniciais, inclusive, deixam o espectador em dúvida logo de cara sobre o caráter do personagem. O mesmo ocorre com outros personagens secundários, de forma mais evidente com Sean Parker, co-fundador do Napster, retratado como principal responsável do racha que ocorreu entre os então amigos Zuckerberg e Saverin. Justin Timberlake interpreta o personagem como se fosse ele mesmo, motivo, talvez, de até o momento ter escapado incólume pelo crivo dos críticos americanos. Sua atuação está longe de ser brilhante, mas não compromete.
Na parte técnica, o maior destaque é a montagem, como já havia antecipado no início deste texto. De forma brilhante, os editores Angus Wall e Kirk Baxter (que já haviam trabalhado anteriormente em outros filmes de Fincher, sendo os mais recentes Zodíaco e Benjamim Button) transformam a experiência de assistir A Rede Social. O ritmo dinâmico e bem estruturado combina de forma impressionante com os diálogos extremamente ricos do roteiro de Aaron Sorkin, pontuado de ásperas críticas ao sistema educacional americano e até mesmo a própria sociedade da terra do Tio Sam.
No Brasil, a estréia do filme está marcada para dezembro, quando geralmente se inicia a temporada de prêmios que encerrará em fevereiro de 2011, com a cerimônia do Oscar. David Fincher, finalmente, está credenciado a receber o careca dourado, já que o filme tem todos os ingredientes que geralmente agradam aos velhinhos da Academia. Além disso, a recepção da crítica ianque tem sido entusiástica, o que é sempre um ponto positivo.
A Rede Social é mais uma mostra clara de que o cinema é mestre em retratar gerações. No futuro, poderemos contar aos nossos netos enquanto assistirmos ao filme como era a experiência de utilizar o velho facebook. Quem sabe, até lá, qual será a rede social do momento?
Cotação: ****
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