Crítica: Atração Perigosa

Cinema é feito para surpreender, e isto pode acontecer em diversos aspectos. Que o diga Ben Affleck. O ator, que até pouco tempo tinha que se esconder por trás do amigo mais talentoso (Matt Damon, com o qual escreveu e levou o Oscar pelo roteiro por Gênio Indomável) e assistir de camarote ao crescimento profissional do irmão Casey Affleck (que atingiu seu ápice com a nomeação ao Oscar pela atuação em O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford), precisava dar um novo rumo a carreira.

Canastrão até dizer chega na frente das câmeras, o ator apostou que sua sorte poderia ser melhor nos bastidores. Com isso, dirigiu Medo da Verdade. O filme recebeu alguns elogios, no entanto ainda não era suficiente para saber se a carreira como cineasta iria decolar. Atração Perigosa veio para mostrar que, como diretor, Ben Affleck é o cara.

O filme é baseado no romance "The prince of Thieves", e retrata o submundo do crime organizado de Boston, que levou a cidade a ganhar a alcunha de capital nacional dos assaltos a bancos nos EUA. Affleck é o líder de uma gangue especializada no arrombamento de cofres e assaltos a carros forte, e vê a parceria com os colegas desmoronar depois de um roubo bem sucedido em que eles acabam fazendo uma refém.

O roteiro do filme é muito bem trabalhado, e seu principal mérito é desenvolver bem os personagens principais. Na direção, Affleck consegue fazer com que a platéia torça por seus mocinhos, que na verdade são os vilões. Não é qualquer um que consegue esse efeito. Para melhorar, em diversas entrevistas foi dito que as principais referências para o filme teriam sido Cidade de Deus e Amores Brutos. Os filmes latinos dirigidos pelo brasileiro Fernando Meirelles e pelo mexicano Alejandro Gonzalez Inarritu serviram de inspiração para algumas das sequências de ação e perseguições de carro (que, por sinal, foram muito bem realizadas). Prova que o diretor tem bom gosto.

Mais do que apenas um "filme de assalto", Atração Perigosa inova também por abordar o lado emocional por trás de um crime, seja por parte do bandido, seja pelo refém. Sem clichês, inclusive. A escolha do elenco favorece este ponto. Astros em ascensão no cinema, Jeremy Renner e Rebecca Hall dão substância aos personagens que interpretam. E Jon Hamm, que faz sucesso na TV com a série Mad Men, tem aqui seu primeiro papel de destaque no cinema, como um agente do FBI que não mede consequências para atingir seus objetivos. Como nada é perfeito, Affleck resolveu atuar e faz o protagonista, sem mostrar nada a mais do que já estamos acostumados.

Credenciado pelos críticos, Atração Perigosa pode agora começar a trilhar seu caminho rumo ao Kodak Theater no Oscar 2011. Se ainda é cedo para dizer isso, ninguém sabe. Pelo menos, se Ben Affleck estiver sentado em uma poltrona aguardando com expectativa se levará um prêmio, a escolha terá sido justa. E eu nunca imaginei que um dia diria isso.

Cotação: ***

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