Crítica: O Último Mestre do Ar

O cinema de fantasia está doente. Apesar dos sintomas serem mais do que claros - basta lembrar de alguns fracassos recentes, como A Bússola de Ouro, Eragon e Percy Jackson e o ladrão de raios - novos projetos surgem a todo momento. Estes filmes tem em comum o fato de geralmente serem adaptações de obras literárias de sucesso, que caem nas mãos de diretores pouco talentosos e que desconhecem a complexidade do material com o qual estão lidando. O resultado, geralmente, são filmes pretenciosos e visualmente impressionantes, que em contrapartida possuem argumento mais raso que um pires de xícara.

M. Night Shyamalan era o tipo de talento que eu imaginava ser capaz de dar um fim a esta sina no gênero. O diretor indiano - acostumado a escrever, produzir e dirigir seus filmes - nunca havia trabalhado com um roteiro adaptado de um material existente. A paixão do filho mais novo pelo desenho animado Avatar, a lenda de Aang foi fator decisivo para fazê-lo aceitar a missão de dirigir a fantasia O Último Mestre do Ar.


O filme acompanha a jornada de um garoto que possui poderes especiais, com os quais é capaz de controlar os quatro elementos - água, terra, fogo e ar - e com isso combater a tirania da Nação do Fogo, que ambiciona escravizar todos os povos livres do mundo.

Torcida para o sucesso do projeto, pelo menos de minha parte, não faltou. A cada imagem lançada, a cada trailer apresentado, minha ansiedade aumentava. Mas ainda não foi desta vez. Novamente Shyamalan não conseguiu repetir a genialidade de outros trabalhos (meus preferidos são O sexto sentido e o fantástico A Vila) e entregou um filme burocrático, que peca - principalmente - por ser fiel demais ao desenho animado.

A série animada teve três temporadas na Nickelodeon. O filme apresenta a história de toda a primeira temporada, condensada em pouco mais de 90 minutos. Nem precisa dizer que os personagens são jogados em cena sem o mínimo trabalho de apresentação, assim como o mundo alternativo onde a ação se desenvolve. Para os que não conhecem a série e não estão familiarizados com seu universo, a sensação que fica é a de que está faltando alguma coisa. Para piorar, em alguns momentos o filme é acompanhado de uma narração que deveria explicar maiores detalhes, mas se limita a descrever coisas que já estão sendo apresentadas. Um desperdício total de tempo e um teste de paciência para o público.

E haja paciência. O Último Mestre do Ar é um filme lento. Não bastasse esta característica nada agradável, Shyamalan ainda utiliza com frequencia o uso da câmera lenta, inclusive nas cenas de batalha. Se o objetivo era valorizar os efeitos visuais, nem precisava de tanto. Não existe nenhuma grande inovação visual no filme.

Se na parte técnica o filme deixa a desejar, o que não falar do elenco. Reconhecido por conseguir belas interpretações de atores mirins (basta lembrar de Haley Joel Osment, em O Sexto Sentido, e de Kieran Culkin em Sinais), desta vez Shyamalan não consegue um retorno favorável de seus astros. Sobram caras e bocas, principalmente as de Dev Patel, péssimo no papel do "vilão" Zuko. O novato Noah Ringer se esforça no papel principal, mas falta carisma ao personagem, algo vital para que o filme realmente desse certo.

Com o fracasso comercial de O Último Mestre do Ar, provavelmente a continuação não verá a luz do dia, o que deixará os fãs frustrados, uma vez que o filme termina sem finalizar a jornada de Aang. Para M. Night Shyamalan, fica aceso o sinal de alerta da carreira, pois este será seu terceiro fiasco seguido (o bom A Dama na Água e o irregular Fim dos Tempos, seus filmes anteriores, foram retumbantes fracassos de público e de crítica). E para o gênero da fantasia, que venham dias melhores, ou será melhor se retirar de fininho e curtir uma merecida aposentadoria. Pelo menos por alguns anos.

Cotação: *



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